Canto do Inácio

Friday, February 29, 2008

CINEMATECA
INÁCIO ARAUJO

Deve ter dado para notar que, desde a inauguração da nova sala, a programação da Cinemateca Brasileira anda melhorando.

Para agora, há uma série de Tesouros da Cinemateca de Taiwan. Não conheço muita coisa que há lá e alguma também não interessa muito, mas passa no sábado (1/3) um filme do King Hu, cineasta que merece muita atenção.

Há uma mostra de papéis femininos que parece um departamento de achados e perdidos. Muita coisa é evidente. Mas aos poucos a Sala vai perdendo aquele ar de cinema de segunda linha que tinha há algum tempo. Entre outros, vai passar um filme de 1964 do Imamura. Há mais coisas muito boas e outras muito ruins..

No mais, a Cinemateca hoje virou um lugar que vale a pena visitar.

Thursday, February 28, 2008

OSCAR
INÁCIO ARAUJO

Uma amiga disse, e eu estou de acordo, que este ano o Oscar não devia dar o prêmio de "melhor filme", mas o de "filme".

Não havia nada que nem de luneta pudesse concorrer com os Coen.

Dormi no meio, mas vi no VT, eles receberam os prêmios com tédio.

Nunca vi isso acontecer antes.

Não era esnobismo, não. Era tédio mesmo.

Friday, February 22, 2008

PROTAGONISTA DE "SHOWGIRLS" É UM ROBÔ ERÓTICO
INÁCIO ARAUJO


Poucos filmes no mundo foram tão malfalados quanto "Showgirls". Até hoje, 13 anos depois de ter sido feito, tem tão pouco cartaz que vai passar no Telecine Action (à 0h15), habitualmente um depósito de nulidades.

O filme é uma espécie de refilmagem de "A Malvada", de Mankiewicz, só que de topless. Mas não é essa a questão, e sim: o que nos autoriza a crer que Paul Verhoeven, o autor deste filme, tido até então por um homem inteligente, fosse visto como um idiota?

É estranho, porque, se o sujeito faz "Robocop", aceita-se. Mas um filme entre garotas pouco vestidas de Las Vegas pega mal. Da atriz principal, Elizabeth Berkley, diz-se então que é uma incompetente etc.

E por que o filme é tão ruim? Dizem que, tratando de garotas eróticas, não tem erotismo. Bem, eu achei Berkley ótima justamente por isso: vive nua, mas não transmite sensualidade. Seu corpo é como uma armadura. Ela é um robocop. Um robô erótico. Isso é o que filme tem de original, de notável.

(texto publicado na Folha de S. Paulo do dia 22 de fevereiro de 2008)

Saturday, February 16, 2008

CINEMA A FAVOR DE FETICHES
INÁCIO ARAUJO


É estranha, às vezes, a sorte dos diretores da nouvelle vague. Como críticos, preconizaram - ao mesmo tempo - um cinema pessoal e de entretenimento. A maior parte deles, quando passou à direção, colocou o caráter pessoal da obra à frente do entretenimento.

Mesmo um "entertainer" autêntico, como François Truffaut, acabou vendo criada toda uma mitologia em torno de si. Sobrou na história Claude Chabrol, fiel ao filme de gênero, ao suspense - enfim, a uma concepção de cinema abandonada, justamente, em favor do fetiche do autor.

No suspense perfeito que é "O Açougueiro", há o interior da França, a sexualidade tormentosa. Imagens recorrentes na obra de Chabrol, autor - sim, autor- tremendamente crítico da França e seus costumes.

(texto publicado na Folha de S. Paulo do dia 20 de junho de 2005)

Thursday, February 14, 2008

MISTÉRIOS DE CLAUDE CHABROL
INÁCIO ARAUJO


Claude Chabrol, o cineasta sem mito. Todos na nouvelle vague têm seu mito. Salvo Chabrol. O Estação Botafogo trouxe os filmes de Godard, Truffaut, Rohmer...

Por que não os de Chabrol? Porque ele filma muito, talvez. Porque ele evita idéias, só tem imagens, talvez. Porque sua obra é irregular - quem sabe?

Talvez, ainda, porque o mal, sua diversidade e ambigüidade sejam temas assustadores demais. Hoje, na TV5, a televisão francesa, passa "A Flor do Mal", dedicado especificamente a essa questão que tanto fascina Chabrol.

Aqui, a trama se passa durante uma eleição municipal, em que um crime será cometido. A partir daí surge a questão: quem é o culpado? A vítima ou o suspeito? E qual a culpa? Um mistério, já se vê.

(texto publicado na Folha de S. Paulo do dia 22 de abril de 2004)

Monday, February 11, 2008

IDÉIAS QUE ME OCORREM
INÁCIO ARAUJO


Não só no Brasil, mas sobretudo: os filmes agora vêm sempre com o aviso: “Baseado em uma história real”.
O que me parece, em outras palavras, o equivalente a dizer que, se não for real é irreal.
Então, os livros do Machado são irreais? Ou o Morte e Vida Severina? Ou o Balzac? Ou o Dostoiewski?

Que diabo é isso? A ficção está em crise. É como se ela mentisse, sempre. Só valem as biografias. Ou os documentários. Se o Johnny não existisse, não haveria verdade nele. A verdade vem de outra parte que não a escrita, a imagem. Vem da “vida real”.

Friday, February 08, 2008

CINE GEMINI
INÁCIO ARAUJO

O Gemini já foi um cinema de ponta em São Paulo.

Agora é mais da ponta de trás. A gente vai lá e senta nas velhas poltronas, e fica perguntando como é que, noutros tempos, a gente via os filmes nessas poltronas e ainda achava muito bom.

Hoje o Gemini é o único cinema de segunda linha que eu conheço freqüentável.

Claro, o Paulinho, perfeccionista da projeção, terá chiliques lá dentro. Já eu até gosto dessa luminosidade incerta.

Acho que muita gente. Outro dia vi um filme lá e estava mais cheio que a maior parte dos cinemas.

A melhor parte. Eles tratam a gente bem. Dão uma paçoca da bombonière antes de entrar na sala. Nunca vi isso antes.

E outra: quando a gente compra o ingresso, por R$ 12,00, eles oferecem um outro, para outra sessão, por R$ 3,00.

Como lá há vários filmes que merecem ser vistos ou revistos (estão passando agora o Paul Verhoeven), me parece uma coisa ótima, que merece ser espalhada.

Monday, February 04, 2008

FILMES RECENTES
INÁCIO ARAUJO


Paranoid Park, do Gus Van Sant, é notável. Faz lembrar o Fritz Lang. Um Lang dos nossos dias, digamos, mas faz. A referência é a melhor possível. Me parece o melhor filme dele até hoje. Bem melhor que Elefante.

Gostei do “Gânsgster” do Ridley Scott. A direção de atores é ótima, eles próprios são excepcionais e o todo tem muito vigor. Agora, é um filme simétrico demais, acomodatício. Nunca sabia se ele quer ser O Chefão ou Operação França. Depois entravam outros na parada.

Seria mais interessante se o Denzel Washington, que parece no começo tão simpático, se mostrasse um monstro. Mas não era o que o filme pretendia. Acho que o Ridley Scott vai atrás de construir uma identidade entre os dois adversários. Coisa de respeito mútuo, etc.

Mas o que me parece é que ele não quis construir uma imagem negativa do gângster do Harlem. Não sei se estava preocupado com a imagem do DW, acho que não, ou com a dos negros, ou dos gângsters. Me parece típico do cinema liberal, em todo caso.