Canto do Inácio

Wednesday, September 06, 2006

"Christine" anuncia o triunfo da máquina
INÁCIO ARAUJO
crítico da Folha de S. Paulo

A idéia de um cinema pessoal rareia, quando o preço dos filmes sobe de maneira desmedida e é preciso, antes de mais nada, posicionar-se no mercado.

O fenômeno verificou-se de maneira intensiva ao longo dos anos 80. Nos EUA, os filmes "blockbuster" introduziram uma nova tendência na exibição dos filmes, que passaram a ser lançados simultaneamente em muitos cinemas e explorados por um período curto de tempo.

O velho "boca a boca", a propaganda que um fazia para outro, perdeu a importância, enquanto cresceu a do aparato publicitário. Não foi à toa que Hollywood fez renascer o "star system" (mais um caso da história se repetindo como farsa), difundiu a cultura do "making of" (o suposto conhecimento dos bastidores), investiu na difusão de cifras (raciocínio induzido: se rendeu "x" num fim de semana, deve ser bom).

Ou seja, tudo tornou-se muito rápido: tanto a vida útil do filme na tela (que logo devia passar ao vídeo, ao DVD, à TV paga) como a percepção do público sobre virtudes capazes de levá-lo a comprar um ingresso.

Com isso, viu-se desaparecer toda uma geração de realizadores pessoais. Que foi feito de Peter Bogdanovich, Paul Schrader, Richard Sarafian etc? Outros conseguem manter-se à tona, como Scorsese, Brian de Palma ou, a duras penas, Francis Coppola.

Um que ameaça desaparecer é John Carpenter. Convém aproveitar, portanto, e ver ou rever "Christine - O Carro Assassino", pequena obra-prima de terror sobre a máquina que assume sua autonomia e volta-se contra o mundo dos humanos.

É um filme de 1983 com espírito dos 70. A cada sequência sente-se a mão de Carpenter. Como comparação: "Uma Vida em Sete Dias", que está entrando nos cinemas, não poderia muito bem ser dirigido por um computador? Terão as máquinas vencido?

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