"Terra dos Mortos" evoca "Metrópolis"
INÁCIO ARAUJO
É necessário voltar à "Terra dos Mortos", porque existe certa injustiça em nomear George A. Romero como mestre do terror em vez daquilo que é: mestre do cinema moderno, simplesmente.
E fazer filmes de gênero, de um gênero, aliás, não o diminui. As questões que levanta são análogas às de um David Lynch, de um David Cronenberg, de um Kiarostami. Dizem respeito à representação e sua verdade, por exemplo, ou a passar do falso ao verdadeiro, do convencional ao real.
Romero não é um intuitivo. "Terra dos Mortos" é clara evocação do "Metrópolis", de Fritz Lang. Os zumbis do filme correspondem, em comportamento, aos operários lobotomizados do filme de Lang. O grande edifício onde os ricos se abrigam vem diretamente do jardim das delícias em que viviam os ricos de "Metrópolis".
E há ainda o ricaço que foge com dinheiro, como em "O Tempo das Diligências", de John Ford, e a amizade entre dois homens, sendo que um deles faz, ao atirar, o mesmo gesto de Gary Cooper em "Sargento York".
Tantas evocações de justiça não são por acaso neste mundo dividido em classes sociais, onde não será difícil divisar o ideário neoliberal em ação.
Mas são os zumbis que mais nos aproximam da questão do controle social, já que eles são controlados por fogos de artifício. E o que são? Um espetáculo. Isso é o que os hipnotiza.
(texto publicado na Folha de S. Paulo do dia 10/12/2006)
INÁCIO ARAUJO
É necessário voltar à "Terra dos Mortos", porque existe certa injustiça em nomear George A. Romero como mestre do terror em vez daquilo que é: mestre do cinema moderno, simplesmente.
E fazer filmes de gênero, de um gênero, aliás, não o diminui. As questões que levanta são análogas às de um David Lynch, de um David Cronenberg, de um Kiarostami. Dizem respeito à representação e sua verdade, por exemplo, ou a passar do falso ao verdadeiro, do convencional ao real.
Romero não é um intuitivo. "Terra dos Mortos" é clara evocação do "Metrópolis", de Fritz Lang. Os zumbis do filme correspondem, em comportamento, aos operários lobotomizados do filme de Lang. O grande edifício onde os ricos se abrigam vem diretamente do jardim das delícias em que viviam os ricos de "Metrópolis".
E há ainda o ricaço que foge com dinheiro, como em "O Tempo das Diligências", de John Ford, e a amizade entre dois homens, sendo que um deles faz, ao atirar, o mesmo gesto de Gary Cooper em "Sargento York".
Tantas evocações de justiça não são por acaso neste mundo dividido em classes sociais, onde não será difícil divisar o ideário neoliberal em ação.
Mas são os zumbis que mais nos aproximam da questão do controle social, já que eles são controlados por fogos de artifício. E o que são? Um espetáculo. Isso é o que os hipnotiza.
(texto publicado na Folha de S. Paulo do dia 10/12/2006)
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