Canto do Inácio

Thursday, February 08, 2007

INCONFIDÊNCIAS MANEIRAS
INÁCIO ARAUJO

Desculpem o sumiço. Tem vários motivos, entre eles o começo do meu curso, os textos que devo entregar à Folha.

Mas, também, quando voltei de Tiradentes, mal pus os pés em São Paulo, mal tive de tempo de pensar no que aconteceu por lá, a polêmica já estava armada no blog do Zanin. Quem ainda não tiver visto, procure a resenha sobre a Mostra de Tiradentes que ele fez e os comentários.

Que mais poderiam querer os novos curadores, Cléber Eduardo e Eduardo Valente?

Enfim, um festival no Brasil é polêmico! Normalmente, nossos festivais são, hoje em dia, convescotes onde os convidados têm a chance de fazer relações pessoais, passar uns dias agradáveis etc. e tal. Então, me parece que a seleção de filmes operou uma formidável transformação nesse panorama. Habitualmente, os festivais têm um bando de filmes pseudo-comerciais e mais um ou, no máximo, dois miúras, que o establishment olha com certa condescendência (em geral, Bressane é nosso marginal oficial). A seleção foi equilibrada. Não colocou os filmes inusuais como os pedintes, tratou-os em igualdade de condições. Isso é novo e muito interessante (não discuto as virtudes e defeitos de cada filme, pois minha visão foi muito parcial: cheguei na quinta, a mostra acabou no sábado).

A mostra deu sequência à iniciativa do ano passado (que teve decorrência também em Brasília, com debates muito interessantes), colocando a crítica no centro das discussões (ou seja: para discutir e ser discutida). É dolorosa a incompreensão que no cinema se tem da crítica: ela é vista ou como algo a cooptar ou como um inimigo perigoso. Na dúvida, opta-se por ela ser um inimigo perigoso, o que é compreensível: ninguém quer ver reflexão sobre um cinema em que as coisas vivem de acomodações.

Me parece importante que os jovens críticos (eles não gostam de ser chamados assim, mas, sinto muito, isso existe) tenham participado de pleno direito do debate. Até aqui, eles tinham uma participação que parecia étnica: havia um debate, um exemplar era escalado. Aqui houve vários deles, na platéia e na cobertura. Me parece saudabilíssimo. Contracampo, Cinética, Paisà, Teorema, entre outros, me parecem lugares onde a reflexão mais séria sobre cinema se faz hoje em dia. É lá que está nosso futuro. Se é que existe futuro, claro.

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