INÁCIO ARAUJO
Robert Bresson escreveu, em seu "Notas sobre o Cinematógrafo", que não devemos temer uma má reputação, e sim uma boa reputação que não possamos sustentar.
A frase me vem à memória quando penso em John Frankenheimer, de quem se vê "O Homem de Alcatraz". Que relação tem o filme com "Ronin" (1998), o último filme dele a obter repercussão? Nenhuma que eu identifique.
"Ronin" é só um filme comercial, "O Homem de Alcatraz", reflexão sobre o sentido da liberdade a partir do destino de um homem que as circunstâncias levaram ao cativeiro.
"Ronin" vai empurrado pela barriga, como se ouvisse o ponto batendo a cada seqüência. "O Homem", ao contrário, é feito do desejo de mostrar, de trazer o inusitado à tela.
É verdade que, antes de "Ronin", Frankenheimer criou um fascinante "George Wallace" para a TV, mas esse deve muito ao personagem (o ex-governador racista do Alabama que, diz o filme, nunca foi pessoalmente racista).
Pode-se dizer que o melhor de JF está nos anos 60, um pouco nos 70, quando conseguiu trazer a inquietude da câmera de reportagem para a ficção. Nesse momento, ele fazia brilhar até títulos comerciais, como "Grand Prix": até hoje, com toda a tecnologia, ninguém filmou corridas de automóvel tão bem. Mas, nas últimas décadas, o diretor parece viver de uma reputação que já não se esforça para sustentar.
(texto publicado na Folha de S. Paulo do dia 03 de junho de 2007)
1 Comments:
Existe caso mais traumática da decadência de uma cineasta de primeira linha como o de Frankhenheimer? Alguém que fez "Grand Prix" e ... "A ilha do Dr. Moreau"!
By Andre de P.Eduardo, at 11:00 AM
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