ANTONIA E EU
INÁCIO ARAUJO
Do que eu gosto em "Antônia":
1. A idéia de fazer um musical
2. A maneira como Tata Amaral explora a fotogenia da Vila Brasilândia
3. A volta da Tata a um tipo de enquadramento "selvagem", como no primeiro filme dela, e que havia sido abandonado em seguida.
4. Do elenco: as moças, em especial a Negra Li, cantam muito bem. O empresário é genial.
5. Da maneira como a paisagem e as personagens se integram
6. A fotografia acompanha bem esse lado selvagem, não faz bonitinho. É funcional.
O que me parece discutível:
1. Será que explorar o lado "positivo" da periferia (cultura, boa gente, luta contra adversidade etc.), e das mulheres da periferia em particular, é de fato eficaz? Tudo bem que mudaram os tempos, mas me lembro do Fritz Lang dizendo, quando lhe perguntaram se não gostava de mulheres, porque suas heroínas eram sempre perversas. E ele respondeu que sim, gostava muito, mas que mulheres boas não rendiam dramaticamente. Como a Tata é mulher está em posição de mostrar as mulheres sem complacência. Os homens é que deviam fazer mais média. O olhar, aqui, me parece complacente.
2. Dramaticamente, o filme não sobe. Isso tem um lado interessante (não se deixar levar por demagogias, como seria transformá-las em conjunto de sucesso e tal). Mas também me parece que pode ser reflexo de uma superficialidade (ver abaixo).
Do que eu não gosto:
1. A história "de sucesso" me parece excessivamente convencional. Parece com "2 Filhos de Francisco", de certa forma, embora seja muito mais interessante.
2. Do fato de, tendo encontrado ótimos enquadramentos, tanto diurnos como noturnos, explorar essas boas imagens à exaustão. Há coisas que me pareceram tremendamente bonitas, mas que, justamente por isso, acho que só deveriam entrar no começo e depois, talvez, no final. Em vez disso, há recorrências que desgastam o que foi encontrado e, no fim, deixam a sensação de que o bairro podia ser mais explorado.
3. O roteiro é muito ruim. Abandona os personagens quando lhe convém. Volta a eles quando lhe convém. Ficam muitas pontas soltas. Será que isso já era um ensaio para a série? (explorando essas histórias que ficaram pelo caminho). Não sei, porque não vi a série.
4. Me fica a impressão de que este é, apesar de todas as suas virtudes, um filme que quer muito agradar. Esse é o aspecto que mais me chama a atenção. Por que a necessidade de agradar? Porque a Tata está olhando o filme não como artista, não como autora, mas como um produto. Um artista tem compromisso, primeiro, consigo. O artesão, com o público, ou com o sistema. Eu torço pra burro para a Tata vir para o lado dos artistas, afinal, porque me parece que tem olho para isso e personalidade para isso. Mas no fim das contas tenho a impressão de que este filme abre mão da pessoalidade em favor de certa superficialidade. Fica no meio do caminho, embora seja um filme simpaticíssimo.
PS - Saiu na Folha uma entrevista com a Lucrécia Martel. Vale dar uma olhada.
INÁCIO ARAUJO
Do que eu gosto em "Antônia":
1. A idéia de fazer um musical
2. A maneira como Tata Amaral explora a fotogenia da Vila Brasilândia
3. A volta da Tata a um tipo de enquadramento "selvagem", como no primeiro filme dela, e que havia sido abandonado em seguida.
4. Do elenco: as moças, em especial a Negra Li, cantam muito bem. O empresário é genial.
5. Da maneira como a paisagem e as personagens se integram
6. A fotografia acompanha bem esse lado selvagem, não faz bonitinho. É funcional.
O que me parece discutível:
1. Será que explorar o lado "positivo" da periferia (cultura, boa gente, luta contra adversidade etc.), e das mulheres da periferia em particular, é de fato eficaz? Tudo bem que mudaram os tempos, mas me lembro do Fritz Lang dizendo, quando lhe perguntaram se não gostava de mulheres, porque suas heroínas eram sempre perversas. E ele respondeu que sim, gostava muito, mas que mulheres boas não rendiam dramaticamente. Como a Tata é mulher está em posição de mostrar as mulheres sem complacência. Os homens é que deviam fazer mais média. O olhar, aqui, me parece complacente.
2. Dramaticamente, o filme não sobe. Isso tem um lado interessante (não se deixar levar por demagogias, como seria transformá-las em conjunto de sucesso e tal). Mas também me parece que pode ser reflexo de uma superficialidade (ver abaixo).
Do que eu não gosto:
1. A história "de sucesso" me parece excessivamente convencional. Parece com "2 Filhos de Francisco", de certa forma, embora seja muito mais interessante.
2. Do fato de, tendo encontrado ótimos enquadramentos, tanto diurnos como noturnos, explorar essas boas imagens à exaustão. Há coisas que me pareceram tremendamente bonitas, mas que, justamente por isso, acho que só deveriam entrar no começo e depois, talvez, no final. Em vez disso, há recorrências que desgastam o que foi encontrado e, no fim, deixam a sensação de que o bairro podia ser mais explorado.
3. O roteiro é muito ruim. Abandona os personagens quando lhe convém. Volta a eles quando lhe convém. Ficam muitas pontas soltas. Será que isso já era um ensaio para a série? (explorando essas histórias que ficaram pelo caminho). Não sei, porque não vi a série.
4. Me fica a impressão de que este é, apesar de todas as suas virtudes, um filme que quer muito agradar. Esse é o aspecto que mais me chama a atenção. Por que a necessidade de agradar? Porque a Tata está olhando o filme não como artista, não como autora, mas como um produto. Um artista tem compromisso, primeiro, consigo. O artesão, com o público, ou com o sistema. Eu torço pra burro para a Tata vir para o lado dos artistas, afinal, porque me parece que tem olho para isso e personalidade para isso. Mas no fim das contas tenho a impressão de que este filme abre mão da pessoalidade em favor de certa superficialidade. Fica no meio do caminho, embora seja um filme simpaticíssimo.
PS - Saiu na Folha uma entrevista com a Lucrécia Martel. Vale dar uma olhada.
8 Comments:
E o debate aberto proposto ao Bruno, e interrompido, não continua, Inácio?
By Anonymous, at 5:46 AM
Boa análise e totalmente isenta...E que, de certa forma se contrapõe a de alguns críticos que tenho visto por aí. Ou seja, estão analisando o filme pela figura da Tata Amaral, que é muito talentosa, e não pelo filme em si -muito esquemático e superficial.
By Anonymous, at 8:36 AM
Inacio
Que eu me lembre o filme da Tata tava pronto antes da serie....alias, qdo fiz um workshop com a Tata em Sto Andre e depois no Senac de Santo Amaro, o filme tava pronto fazia um tempo jah!
By Anonymous, at 3:12 PM
Rodrigo,
você diz o debate sobre o Michael Mann?
Está lá. Mas eu não tenho a nada a dizer a respeito, até o momento. Nem tive tempo para parar e pensar no assunto, para falar a verdade. O que não significa que as coisas tenham morrido, não é? As opiniões lançadas lá me parecem dignas de atenção.
Inácio
By Anonymous, at 12:12 AM
Não me agrada ver produções já rodadas na TV pegarem carona no cinema (aquela velha história de explorar o sucesso de um tema ao máximo, como diria o jornalista Ancelmo Góis). Antônia heroiciza uma realidade da periferia que, a meu ver, não tem muito a ser heroicizada (até mesmo o diretor Fernando Meirelles quando fez Cidade de Deus disse em entrevista posterior que hoje teria abordado o tema com mais cuidado, pois ficou com a clara impressão de que algumas platéias viram os marginais como anti-heróis). Em suma, um filme que vale uma locação em DVD, mas cinema... Fala sério!
(http://claque-te.blogspot.com): Perfume - A História de um Assassino, de Tom Tykwer.
By Anonymous, at 4:00 AM
Onde está, na Folha, a entrevista com a Martel, Inácio? Procurei na Ilustrada dos dias 13, 14 e 15 e não encontrei.
By Anonymous, at 6:22 AM
Marcos, o link é esse: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1002200711.htm
By Diego, at 7:31 AM
Obrigado!
By Anonymous, at 4:25 PM
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