SINAIS DE VIDA
INÁCIO ARAUJO
Outra briga entre o Zanin e a jovem crítica!
Acho formidável. Desde os tempos Cinema Novo vs. Khouri não acontecia nada parecido (não conta o esmagamento do cinema marginal pelo establishment, claro) e tão interessante. Por isso roubo o título do filme do Herzog.
Para mim, a rigor, não faz a mínima diferença se o Nelson Pereira dos Santos se acha do cinema novo ou não. Como perguntou o Saraceni no debate em que estivemos presentes (e me tirando, por sinal, as palavras da boca, uma por uma): "Se "Vidas Secas" não é cinema novo, então o que é?”.
O que importa aqui: é que o Nelson, quando diz isso (aliás, toda a história começa porque o Zanin acha que ele não pode ter dito nada parecido), de certa forma coloca em questão toda nossa percepção sobre aqueles anos.
É crítico no sentido barthesiano: Criticar quer dizer pôr em crise.
Agora, vou discordar da minha querida amiga - e futura biógrafa - Rô Caetano. Ela acha que o catálogo devia ter artigos do Jean-Claude e do Ismail. Até podia ter. Mas por que devia? Não entendo. Parece que nada acontece se JC & Ismail não se manifestarem. E se tem artigo de um, tem que ter do outro, que nem Cosme e Damião. Isso atrapalha a vida deles, que correm o risco de entrar para a história como pensadores oficiais (não só oficiais como compulsórios) do cinema brasileiro.
O Puppo, por sinal, fez belas mostras, e acho que em todas teve o cuidado de pôr artigos deles (e meus também, diga-se: corremos o risco de virar o Trio Irakitan do século 21). São sempre interessantes, mas é saudável escutar outras vozes. Isso não significa excluí-los. Por sinal, há um debate com o Ismail e o Cacá Diegues no dia 13. Claro que vale a pena. Agora, caipira mesmo é ir ao CCBB e não visitar a exposição Anish Kapoor.
INÁCIO ARAUJO
Outra briga entre o Zanin e a jovem crítica!
Acho formidável. Desde os tempos Cinema Novo vs. Khouri não acontecia nada parecido (não conta o esmagamento do cinema marginal pelo establishment, claro) e tão interessante. Por isso roubo o título do filme do Herzog.
Para mim, a rigor, não faz a mínima diferença se o Nelson Pereira dos Santos se acha do cinema novo ou não. Como perguntou o Saraceni no debate em que estivemos presentes (e me tirando, por sinal, as palavras da boca, uma por uma): "Se "Vidas Secas" não é cinema novo, então o que é?”.
O que importa aqui: é que o Nelson, quando diz isso (aliás, toda a história começa porque o Zanin acha que ele não pode ter dito nada parecido), de certa forma coloca em questão toda nossa percepção sobre aqueles anos.
É crítico no sentido barthesiano: Criticar quer dizer pôr em crise.
Agora, vou discordar da minha querida amiga - e futura biógrafa - Rô Caetano. Ela acha que o catálogo devia ter artigos do Jean-Claude e do Ismail. Até podia ter. Mas por que devia? Não entendo. Parece que nada acontece se JC & Ismail não se manifestarem. E se tem artigo de um, tem que ter do outro, que nem Cosme e Damião. Isso atrapalha a vida deles, que correm o risco de entrar para a história como pensadores oficiais (não só oficiais como compulsórios) do cinema brasileiro.
O Puppo, por sinal, fez belas mostras, e acho que em todas teve o cuidado de pôr artigos deles (e meus também, diga-se: corremos o risco de virar o Trio Irakitan do século 21). São sempre interessantes, mas é saudável escutar outras vozes. Isso não significa excluí-los. Por sinal, há um debate com o Ismail e o Cacá Diegues no dia 13. Claro que vale a pena. Agora, caipira mesmo é ir ao CCBB e não visitar a exposição Anish Kapoor.
10 Comments:
inácio
eu não me envolvi nessa discussão com a Rosário pelo simples fato de que o Almanakito não chega mais pra mim (nem sei o porquê, mas conhecendo a Rô sei que deve ser por confusão digital e não por exclusão - e nunca pedi reinclusão porque com minha conexão discada o alamanakito era quase impossível d'eu ler naquela zona pesada de KB).
mas, já que vc levantou, me passaram só o que ela escreveu (não vi se houve alguma resposta), e achei bastante surreal, justamente porque não parte da idéia principal da mostra. ou seja: não se leu os dois textos do catálogo onde se explicava como foi pensada a mostra, ou se leu sem querer entender.
a idéia era justamente pegar os filmes de um período bem específico do que se considera Cinema Novo (e Vidas Secas era considerado parte pela curadoria, sendo excluído a pedido do Nelson sim - isso é outra discussão, onde seria muito mais interessante entender porque ele pediu isso e não se perguntar se isso era verdade - que é quase uma criancice), e exibi-los para que os olhos revissem (REVISÃO = ver de novo) os filmes por si, sem os pressupostos e discursos críticos já mais que repetidos sobre o Cinema Novo (daí não ter o MENOR sentido chamar especialmente Ismail e Jean-Claude, dois dos maiores criadores dos conceitos sobre o que é historicamente o Cinema Novo).
o Zanin aparentemente viu nisso um convite a apagar tudo o que foi escrito, o que está longe de ser verdade. é um convite só pra voltarmos aos filmes, olharmos eles de novo, sem esse discurso que se tornou maior do que a simples existência deles.
fora isso, com uma criteriosíssima pesquisa, o Ruy quis trazer à tona mais duas coisas: o quanto o Cinema Novo não foi recebido unanimemente então (e portanto é um discurso a posteriori) e o quanto os filmes chamados do Cinema Novo eram minoria na produção brasileira (ao contrário do que a História Oficial do Cinema Brasileiro indica como fala dos anos 60 como "os anos do Cinema Novo").
claro, pode-se julgar o quanto a mostra e o próprio catálogo conseguem fazer essas coisas ou não - isso é genial.
mas simplesmente dizer que ela não PODIA fazer isso, e que devia repetir os mesmos discursos já bastante publicados sobre o movimento considerado o mais importante do nosso cinema - bom, isso pra mim tem nome: preguiça e/ou medo (de que vistos por outro prisma precisemos refazer estereótipos e pensamentos formados).
By Eduardo Valente, at 6:41 PM
só esclarecendo uma coisa, na revisão pós-postagem: o Ismail e o Jean-Claude (não apenas eles, lógico, mas já que foram os citados), ao formarem vários dos conceitos que temos sobre o Cinema Novo, foram essenciais na formação de todos nós - que conhecemos bem e admiramos pacas tudo que eles escreveram.
mas exatamente porque foram tão lidos e tão admirados, corre-se o risco sério de ficarem maiores do que os próprios filmes - imexíveis, diria nosso infame ex-ministro. e nada deve e pode ser imexível, assim como não pode ser simplesmente queimado, jogado no lixo por puro deleite (o que a mostra não propõe).
então o importante na mostra é: voltemos aos filmes.
daí porque a escolha de não ter um catálogo cheio de textos críticos: a fortuna crítica sobre o Cinema Novo já existe e é vasta, e está disponível. assim como filmes são diferentes e cada um pede um tratamento estético, catálogos de mostra são assim tb: catálogos sobre Candeias pedem fortuna crítica sobre os filmes simplesmente porque ela não existe; sobre Montagem no Cinema Brasileiro pedem pesquisas biográficas e técnicas porque elas simplesmente não existem; etc.
sobre o Cinema Novo pede-se algo distinto, porque já existe coisa pacas escrita.
não dá pra não entender isso sobre a Mostra: é não entender a Mostra, o conceito dela (de novo, vejam o nome!!). Revisão é simplesmente VER de novo. não é apagar a história - isso tem outro nome, que não está na mostra nem no catálogo.
By Eduardo Valente, at 6:49 PM
"É crítico no sentido barthesiano: Criticar quer dizer pôr em crise"
Se não me engano, a etimologia de origem da palavra crítica já traduz o desejo do pôr em crise, portanto, não havendo nela alguma coisa de especificamente barthesiana.
By Anonymous, at 8:06 AM
Acho interessante como a tal nova critica, ou jovem crítica, ou crítica independente, está sendo alvo de tanta atenção, mas nunca pelos seus textos, por suas idéias sobre os filmes, sobre o cinema, pois sempre o questionamento é sobre suas ações (curadoria, debates, catálogos, mostras), o que parece ser uma forma de reagir à uma crítica que não se contenta com o texto e que também se torna agente cultural (ainda bem). Que bom que haja sangue novo, pulsante, apaixonado e apaixonante, com visões independentes, sem dizer amém aos estabelecidos. Provocar crises, ou reações, de fato, é tarefa da crítica. Em geral, a crítica brasileira é muito acomodada, muito profissional, muito polida ou engraçadinha, sem idéias realmente contundentes, realmente analíticas, que abram janelas para pensarmos e não apenas confirmem nossos pensamentos. Só discordo do Inácio em relação a essa jovem crítica ser uma crítica do futuro: ela é do presente.
Cassio R.F
By Anonymous, at 8:28 AM
falou bem, cássio.
By Sérgio Alpendre, at 10:03 AM
eu t
By Eduardo Valente, at 4:26 PM
ops, take 2.
eu tenho aqui uma impressão comigo, Cássio, que explica porque o que a chamada nova crítica escreve não cria polêmica... impressão que vai exatamente contra uma das pechas que se tenta jogar nesta "nova crítica":
a "velha crítica" (ah, se vão me categorizar, eu vou começar tb!!) simplesmente não lê a nova crítica. e acusa a nova crítica de ser sectária - logo ela que lê e discute todos os outros. quando eu começar a ver um velho crítico discutindo os textos e idéias de alguém da nova crítica, aí eu volto a levar a sério a discussão.
By Eduardo Valente, at 4:29 PM
Espera ai Eduardo, o Inacio já até recomendou As Panteras Detonando por conta do Ruy.
By Anonymous, at 11:20 PM
Mudando de assunto, acabei de voltar da exposição do Kapoor, e é absolutamente sensacional; na semana passada, ouvindo a Lucrécia Martel em São Paulo, ela insistiu muito na questão do som em seus filmes, concentrando muito na vibração dos tímpanos a sensação física que o cinema proporciona, e, curiosamente, deixou (pelo menos naquele dia) a imagem em segundo plano; as obras do Kapoor são visualmente sensacionais justamente por gerarem uma concretitude do olhar como manifestação física (estou viajando?), o reflexo do que captamos na retina se espalhando por todo o corpo, coisa que as crianças sabem experimentar muito bem, mas que quando crescemos acabamos nos dessensibilizando; me senti ali como numa Casa Maluca de um parque de diversões, e foi impossível não lembrar do final de "A Dama de Shanghai".
By Marcelo V., at 1:26 PM
filipe
assim como a nova crítica nao é questão de idade, o Inácio tá longe de ser um crítico velho...
By Anonymous, at 7:17 PM
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