MORREU CANDEIAS
INÁCIO ARAUJO
Mais do que o cinema novo, foi o Candeias quem me mostrou que era possível fazer grande cinema no Brasil.
"A Margem" foi uma descoberta. "Meu Nome É Tonho" confirmou que havia ali um talento fora do comum.
Gosto menos da maior parte das coisas que ele fez depois. Ele sabia trabalhar com pouco dinheiro, acho que foi testando até onde isso seria possível. Passei a gostar de partes do que ele fazia. Mas sempre o talento estava lá.
Em "A Herança" ele me deu crédito como assistente de direção. De fato, o que eu fiz foi assistir a filmagem.
Ou melhor: teve o dia em que eu me pus a dizer a ele que ele podia ter dirigido uma sequência de tal modo, e não como fizera. Ele virou pra mim e disse: "Olha, falar é fácil, fazer é outra coisa".
Ele fazia tudo na filmagem. Câmera, fotografia, roteiro, direção. Trabalhava com os piores atores do mundo e conseguia, pelos movimentos de câmera, esconder defeitos e relevar qualidades. Isso o tornou um tanto auto-suficiente, é verdade.
Acho que sua carreira podia ter sido mais feliz do que foi. De quase todo mundo, no Brasil, pode-se dizer isso. Mas Candeias foi um desses caras que, a rigor, o establishment conspirou para que não filmasse. Poderia ter feito mais. O que fez, o que ficou, já é muito. Não havia mais lugar para um cara como ele no cinema de hoje.
INÁCIO ARAUJO
Mais do que o cinema novo, foi o Candeias quem me mostrou que era possível fazer grande cinema no Brasil.
"A Margem" foi uma descoberta. "Meu Nome É Tonho" confirmou que havia ali um talento fora do comum.
Gosto menos da maior parte das coisas que ele fez depois. Ele sabia trabalhar com pouco dinheiro, acho que foi testando até onde isso seria possível. Passei a gostar de partes do que ele fazia. Mas sempre o talento estava lá.
Em "A Herança" ele me deu crédito como assistente de direção. De fato, o que eu fiz foi assistir a filmagem.
Ou melhor: teve o dia em que eu me pus a dizer a ele que ele podia ter dirigido uma sequência de tal modo, e não como fizera. Ele virou pra mim e disse: "Olha, falar é fácil, fazer é outra coisa".
Ele fazia tudo na filmagem. Câmera, fotografia, roteiro, direção. Trabalhava com os piores atores do mundo e conseguia, pelos movimentos de câmera, esconder defeitos e relevar qualidades. Isso o tornou um tanto auto-suficiente, é verdade.
Acho que sua carreira podia ter sido mais feliz do que foi. De quase todo mundo, no Brasil, pode-se dizer isso. Mas Candeias foi um desses caras que, a rigor, o establishment conspirou para que não filmasse. Poderia ter feito mais. O que fez, o que ficou, já é muito. Não havia mais lugar para um cara como ele no cinema de hoje.
3 Comments:
A partida do Candeias aqui no Brasil e do Robert Altman em Hollywwod fez e repensar o que será do cinema daqui pra frente? Haverá lugar para o talento hoje? ou o dinheiro resolverá supostamente todos os problemas? Parece até curioso, mas fui ver Rocky Balboa e o diretor (Sylvester Stallone), considerado por muitos acabado para o cinema, além de dar uma aula de cinema e sobre ele próprio, critica exatamente isso: o que será desse cinema cheio de falsas estrelas, orçamentos milionários e excessivos efeitos especiais amanhã? Repasso a você essa pergunta que me foi feita mas me recuso a ser evasivo na resposta.
(http://claque-te.blogspot.com): Vôo United 93, de Paul Greengrass.
By Anonymous, at 2:42 PM
Belo depoimento sobre o Candeias. Curto, direto e muito bom. Sem floreios ou coisas do tipo. Achei engraçado a Folha não ter publicado um texto do Inácio sobre ele. Do pessoal do jornal, ninguém conheceu o Candeias como o Inácio, que já tinha escrito outro ótimo texto sobre o mestre na Contracampo. A Zingu! de março, será dedicada a ele com dossie e tudo mais.
By Anonymous, at 7:27 PM
Matheus,
a Folha me pediu um texto sobre o Candeias, mas eu já estava muito ocupado. Me pareceu muito bom, por sinal, o texto do Zé Geraldo.
No mais, obrigado pelo elogio.
abraço,
Inácio
By Anonymous, at 4:47 PM
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