FURY 2
INÁCIO ARAUJO
Não quero falar dos filmes. Eles estão aí. Estou siderado com a história da morte do menino no Rio, sua repercussão, a maneira como vem sendo tratada.
Vai aí o rascunho, coisas que me passaram pela cabeça.
Não sei se o cinema é só uma arte, se é uma arte. Mas tenho certeza de que não é apenas uma arte ou pelo menos de que, sendo, é aquela que nos ensina a olhar a trama das aparências, a entender o que está nas aparências que nosso hábito da profundidade oculta.
Quero dizer que: estamos prontos para linchar os responsáveis pela morte do menino no Rio de Janeiro. O Renato Janine em pessoa está.
No entanto, à parte a cena horrível que podemos reconstituir mentalmente, me pergunto se houve vontade de assassinato no caso ou apenas acaso de uma infelicidade atroz.
Ninguém planejou matar o menino, muito menos arrastando-o com o carro. Os caras podem ser desumanos ou inumanos ou o que se quiser. Mas não planejaram isso. A morte não estava nos planos.
No entanto, o que se vê, o que se lê é no sentido de encontrar um culpado a qualquer preço e entregá-lo ao ódio da população. Isso é pura barbárie.
Ou seja, estamos virando, via mídia, um país de linchadores. Ou já viramos?
Fritz Lang pensava nisso. Seus filmes tratam disso apaixonadamente: no que acontece quando a irracionalidade se arvora em lei e toma seu lugar.
(P.S.: Quando uns caras ricos em Brasília botaram fogo em um índio, foram quase inocentados. Apareceu um juiz, ou vários, para dizer que entre o ato de atear fogo e a morte do índio havia uma distância que desautorizava qualquer intencionalidade de morte. É ridículo: é como se eu dissesse que, quando atiro, não estou querendo matar alguém, a bala é que mata. Nosso problema de incapacidade de olhar as aparências parece infinito).
INÁCIO ARAUJO
Não quero falar dos filmes. Eles estão aí. Estou siderado com a história da morte do menino no Rio, sua repercussão, a maneira como vem sendo tratada.
Vai aí o rascunho, coisas que me passaram pela cabeça.
Não sei se o cinema é só uma arte, se é uma arte. Mas tenho certeza de que não é apenas uma arte ou pelo menos de que, sendo, é aquela que nos ensina a olhar a trama das aparências, a entender o que está nas aparências que nosso hábito da profundidade oculta.
Quero dizer que: estamos prontos para linchar os responsáveis pela morte do menino no Rio de Janeiro. O Renato Janine em pessoa está.
No entanto, à parte a cena horrível que podemos reconstituir mentalmente, me pergunto se houve vontade de assassinato no caso ou apenas acaso de uma infelicidade atroz.
Ninguém planejou matar o menino, muito menos arrastando-o com o carro. Os caras podem ser desumanos ou inumanos ou o que se quiser. Mas não planejaram isso. A morte não estava nos planos.
No entanto, o que se vê, o que se lê é no sentido de encontrar um culpado a qualquer preço e entregá-lo ao ódio da população. Isso é pura barbárie.
Ou seja, estamos virando, via mídia, um país de linchadores. Ou já viramos?
Fritz Lang pensava nisso. Seus filmes tratam disso apaixonadamente: no que acontece quando a irracionalidade se arvora em lei e toma seu lugar.
(P.S.: Quando uns caras ricos em Brasília botaram fogo em um índio, foram quase inocentados. Apareceu um juiz, ou vários, para dizer que entre o ato de atear fogo e a morte do índio havia uma distância que desautorizava qualquer intencionalidade de morte. É ridículo: é como se eu dissesse que, quando atiro, não estou querendo matar alguém, a bala é que mata. Nosso problema de incapacidade de olhar as aparências parece infinito).
13 Comments:
Inacio, voce disse exatamente o que eu estava pensando sobre o caso desse menino. Incrivel. Abs.
By Anonymous, at 8:45 AM
Inácio,
um certo xará meu tem uma música que termina com os seguintes versos: "A mais triste nação/ na ápoca mais podre/ compõe-se de possíveis grupos de linchadores".
é isso, infelizmente é isso.
By Anonymous, at 9:43 AM
Inácio,
um certo xará meu tem uma música que termina com os seguintes versos: "A mais triste nação/ na época mais podre/ compõe-se de possíveis grupos de linchadores".
é isso, infelizmente é isso.
By Anonymous, at 9:44 AM
Esse episódio e sua repercussão me faz lembrar alguns filmes como "Consciências Mortas", de William Wellman. Ainda mais tendo você falado em país de linchadores...
Enfim, gostaria de divulgar meu blog cinematográfico: www.sombras-eletricas.blogspot.com
Um abraço.
By André Renato, at 2:16 PM
Não entendi direito a comparação com o caso do índio. Você ironiza o pensamento do juiz, mas atribui que no caso do menino a morte não foi planejada pelos caras? Não consigo diferenciar os fatos
By Anonymous, at 8:10 PM
Inácio, o sentimento de vingança da classe média é assustador.
By Ivan, at 2:27 PM
Inácio,
Sobre a moça de classe média paulista, Suzane Von Richthofen,que abriu a guarda para matarem os pais, não houve esta comoção popular, esta aura de linchamento no ar....
O anônimo acima já nem critica Inácio Araújo e sim tenta um linchamento intelectual, ou seja, depois deste "Fúria 2" nada do que o crítico escreveu tem validade. Não é à toa que é um anônimo. Brasil, mostra a sua cara!!!!
Nelson Rodrigues de Souza
By Nelson Souza, at 3:52 PM
Anonimato com ofensas não tem vez por aqui.
By Diego, at 5:59 PM
RESPOSTA AO MARCO:
Acho que não me expllquei muito bem.
No caso do índio, atearam fogo nele. Ele morreu. Quando o caso foi julgado _desculpe, já não me lembro os termos técnicos envolvidos_, o gesto foi altamente mitigado, eles passaram a responder por homicídio culposo ou algo assim, quer dizer, como se a morte tivesse sido involuntária.
O que eu quis dizer foi: ela só pode ser considerada involuntária se quem julga dissociar o ato de atear fogo e sua decorrência, a morte.
É a mesma coisa que dizer: fulano deu um tiro, mas ele não quis matar. A bala é que matou. Isso é non sense.
No caso do menino morto no Rio: o assassinato não foi planejado, não houve premeditação. Não pode ter havido, pois ninguém pode adivinhar que uma pessoa vai ficar presa no carro, do lado de fora.
O que não desculpa nada, é evidente.
De todo modo, não tenho a menor intenção de ser juiz dos atos dos outros. Apenas me parece que certas imagens (da TV, no caso, mas mais do quen tudo a terrível representação que nos fazemos de uma criança sendo arrastada por um carro) podem interferir de maneira nefasta em nossa maneira de julgar os acontecimentos.
Isso numa época de grandes ressentimentos, de grande insatisfação social generalizada. Acaba virando mesmo caso de "Fúria" ou "Consciências Mortas".
By Anonymous, at 5:42 AM
No Mais de hoje também saiu um belo texto, como de costume, do Elio Gaspari sobre o artigo do Renato Janine Ribeiro. Confesso que também fiquei chocado com as idéias do professor de Ética da USP.
By Anonymous, at 12:34 PM
Ofensa é dizer-ser jornalista e doar aos eitores tanta parvoíce e desvios ideológicos norteando o intelectual desonesto.
By Unknown, at 6:21 PM
Sim, nem tiveram a intenção de arrastar, acharam que era um boneco de judas, como disse o outro. E 'sentimento de vingança da classe média' é coisa de petista retardado, quem é a audiência dos datenas da vida? a classe média?Um show de desonestidade intelectual nos comentários e no post, típico da esquerda brasileira.
By Anonymous, at 6:10 PM
existe um equívoco nisso tudo, e quase perdemos a oportunidade de discutir o que o texto do Janine Ribeiro apresentou. ainda bem que não perdemos, pois Manuel da Costa Pinto e Marcelo Coelho entenderam do que se tratava: da necessidade de aproximar razão e emoção, quando elas colidem.
ah, realmente, os assassinos foram avisados de que havia um menino preso no carro, ao que eles responderam tratar-se de um boneco do Judas. Esconder o ódio que sentimos diante disso é que seria desonesto.
By Sérgio Alpendre, at 3:02 PM
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