Canto do Inácio

Friday, July 20, 2007

UM ANO DE CINÉTICA. MARAVILHA!
INÁCIO ARAUJO

Toda hora acho que estou ficando velho. Os filmes dos velhos diretores me parecem em geral muito mais sólidos do que os dos novos, que com freqüência me parecem muito inocentes, no sentido em que parecem conhecer muito pouco a arte que escolheram praticar, como se isso fosse secundário. Disso resulta um cinema antiquado - já estou cheio de me ouvir falar dos filmes anos 40 que fazemos - e, o que é pior, balizado por uma burocracia de péssima qualidade.

Que burocracia é essa? Eis a questão (ou uma delas). No tempo da Embrafilme a gente sabia que, certos ou errados, eram tais e tais pessoas que tomavam a decisão. E agora? Petrobrás? Eletrobrás? BNDES? O que é isso? Chegamos a um sistema de Estado oculto que, francamente, beira o ridículo (o ridículo vem estampado no frontispício desmoralizante, cheio de patrocínios, dos nossos filmes). Existe investimento estatal, sim, só que ninguém pode reclamar, porque vem de renúncia fiscal, decisão da sociedade, iniciativa privada e baboseiras conexas.

Ora, me parece que o governo (o Estado, vá lá) tem dificuldade em assumir essa história porque a classe de cinema não ajuda. Quando criaram o PICTV em S. Paulo foi uma chiadeira notável, porque liquidava a influência de associações classistas, "comissões" etc e tal. Chiaram tanto que o governo se encheu e tirou o dinheiro do cinema e pôs tudo na orquestra, acho, ou em teatro, ou em biblioteca, ou qualquer outra coisa menos visada.

Voltando atrás: gostei muito do "500 Almas", que passou meteoricamente em SP. Gosto muito do Pizzini tratando a natureza (assim como não gosto dele tratando a linguagem, soa falso; quando se envolve com a natureza, a linguagem se impõe naturalmente). Mas, pô, que burocracia infernal. Esse cara já tinha que ter estreado há uns 10 anos. Não é possível assim.

Isso tudo para dizer o seguinte. Outro dia me perguntava o que há de novo no cinema brasileiro. Bem, há gente de talento, há coisas novas, mas novo mesmo, como gesto, é a crítica.

Há algum tempo, os críticos ficavam se queixando de falta de espaço e esse trololó todo, quando os diretores os acusavam de não serem realmente críticos.

Era uma atitude defensiva. De fato, o espaço crítico diminuiu e diluiu-se nos jornais. É um movimento complexo, não importa. O fato é que quando os diretores dizem "ah, não há mais Paulo Emilio", existe muita má fé nisso. É uma maneira de pressão, como a dizer: se fosse o PE falaria bem de mim. Como se PE fosse meio bobo, sacou?

Mas agora existe a internet, existe a Contracampo, a Cinética, existe também a Paisà, que não é site, existe o Cinequanon. São todos feitos por gente que estuda, vai atrás dos filmes, fala de maneira pertinente das coisas etc.

Claro, eu nunca vou compreender porque eles e um Carlos Alberto Mattos, que é pelo menos ótimo crítico, não se entendam.

Mas isso é detalhe. Para mim, é nesse campo que se dá a melhor renovação no Brasil atualmente. É onde existe um rigor que seria interessante perceber em outras áreas.

Enfim, o que eu queria dizer? Parabéns à Cinética. Longa vida. E que esse movimento do pensamento conduza a filmes menos inocentes, menos virgens, que caramba, já está na hora.

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