DAVID LYNCH
INÁCIO ARAUJO
O Alessandro lançou uma bela provocação.
Porque é verdade que nunca me liguei nos filmes do David Lynch. Não me encantei com Homem Elefante, detestei Duna, achei Veludo Azul um tanto enjoado e assim por diante.
Me parecia que eram filmes um tanto feios - pela combinação de cores, pela evolução, pelas pessoas. É um pouco como se fossem quadros do Francis Bacon.
E sempre fiquei um tanto inquieto com o artificialismo que existe nos filmes. E com um lado que parece sempre estar cotejando o momento, a moda, a modernidade.
Bem: quando veio o Estrada Perdida eu fiquei boquiaberto.
Não sei se ele evoluiu (acho que sim) ou eu. O fato é que Estrada criou uma coisa diferente, que era um labirinto, essa desmontagem dos personagens, que de repente se duplicavam etc.
E depois veio Straight Story, História Real, se não me engano, que era o mesmo labirinto, mas em linha reta.
E finalmente aquele, estranhíssimo, "Cidade dos Sonhos".
Eu fiquei ligado, mas não conseguia distinguir o sentido. Fiquei, como todo mundo, procurando simetrias que não existem. Percebi que existia uma outra lógica aí dentro, de sonho, mas não sabia como ela se dispunha. Foi um texto do Vladimir Safatle, professor de filosofia que pegou o coração do enigma (mas não o eliminou).
Então, meu ponto de vista sobre o Lynch mudou mesmo. Revi alguma coisa anterior dele e me parece que ele também conseguiu chegar, nos últimos filmes, a uma forma mais dominada, mais madura. De todo modo, gosto mais de Veludo Azul hoje do que no passado.
Se é o melhor ou maior cineasta vivo?
Isso não vem ao caso. Falei o nome dele como poderiam ter sido dez outros. Acho que é um cineasta ainda por decifrar, que tem algo de muito especial a dizer, muito inovador. Como o Kiarostami, o DePalma, o Cronenberg e vários outros. Mas, para mim, mais recente um pouco.
INÁCIO ARAUJO
O Alessandro lançou uma bela provocação.
Porque é verdade que nunca me liguei nos filmes do David Lynch. Não me encantei com Homem Elefante, detestei Duna, achei Veludo Azul um tanto enjoado e assim por diante.
Me parecia que eram filmes um tanto feios - pela combinação de cores, pela evolução, pelas pessoas. É um pouco como se fossem quadros do Francis Bacon.
E sempre fiquei um tanto inquieto com o artificialismo que existe nos filmes. E com um lado que parece sempre estar cotejando o momento, a moda, a modernidade.
Bem: quando veio o Estrada Perdida eu fiquei boquiaberto.
Não sei se ele evoluiu (acho que sim) ou eu. O fato é que Estrada criou uma coisa diferente, que era um labirinto, essa desmontagem dos personagens, que de repente se duplicavam etc.
E depois veio Straight Story, História Real, se não me engano, que era o mesmo labirinto, mas em linha reta.
E finalmente aquele, estranhíssimo, "Cidade dos Sonhos".
Eu fiquei ligado, mas não conseguia distinguir o sentido. Fiquei, como todo mundo, procurando simetrias que não existem. Percebi que existia uma outra lógica aí dentro, de sonho, mas não sabia como ela se dispunha. Foi um texto do Vladimir Safatle, professor de filosofia que pegou o coração do enigma (mas não o eliminou).
Então, meu ponto de vista sobre o Lynch mudou mesmo. Revi alguma coisa anterior dele e me parece que ele também conseguiu chegar, nos últimos filmes, a uma forma mais dominada, mais madura. De todo modo, gosto mais de Veludo Azul hoje do que no passado.
Se é o melhor ou maior cineasta vivo?
Isso não vem ao caso. Falei o nome dele como poderiam ter sido dez outros. Acho que é um cineasta ainda por decifrar, que tem algo de muito especial a dizer, muito inovador. Como o Kiarostami, o DePalma, o Cronenberg e vários outros. Mas, para mim, mais recente um pouco.
4 Comments:
Veludo azul é o primeiro filme de que me recordo na vida. Acho que assisti ele em 88 no vídeo, com uns 4 anos. Inácio, aproveitando que você está aceitando provocações, gostaria que você falasse sobre o novo cinema alemão. Na verdade, aquele velho novo cinema alemão, de Herzog, Fassbinder, Schlöndorf, Wenders... Lembro de que numa das suas aulas você faz um paralelo, muito bom por sinal, entre o Douglas Sirk e o Fassbinder, mas não me lembro de ter ouvido você falar sobre o Werner Herzog. O que você acha dos filmes antigos dele e, principalmente, dessa nova fase "documental"? Eu, pessoalmente, acho um dos maiores cineastas produtivos da atualidade. Abraço.
By Wolf, at 11:47 AM
Valeu, Inácio.
Interessante que eu não tenha ainda uma opinião muito bem formada a respeito de Lynch.Reassistirei por agora ao Veludo Azul(que está muito distante no tempo).
Lembro que tempos atrás, Lynch também não me convencia, ao contrário de um Cronenbergue(que também entra no mesmo batido clichê de "cineasta do bizarro",hehe).Mas senti alguma firmeza no Cidade dos Sonhos, parece ter havido mesmo uma maturidade estética, até mesmo formal.Será que Lynch teria se esquivado dos estereótipos, de imagens "fáceis", para poder falar melhor desse Mal subterrâneo que acaba por tomar conta da América? E o História Real é mais naturalista para ele, poético por demais, mas Lynch sempre,claro.Outro filme em que senti firmeza.
Talvez eu fosse muito "moralista" e achasse o tratamento do mal por demais tolo, talvez até mesmo fetichista(o que não vi nesses dois filmes), ao contrário de um Cronembergue, que tem uma câmera sempre perplexa, de um Burton, sempre muito crítico inteligentemente(muito embora o mal nele sempre passe também pela necessidade de compreensão dos excluídos, dos traumas, sendo, logo, um cinema humanista, político).Mas Lynch, afinal quem é ele , apenas um formalista, importante no quesito de um "cinema-laboratório"? Desconfio que não, mas até que ponte ele vai mais longe é que ainda não sei.
By Anonymous, at 3:18 PM
Acho que o termo "mal" talvez não fosse o mais adequado,mas como muita das vezes acaba se chegando a uma espécie de ruína, talvez ele não fosse de todo impróprio.E sem rever os filmes fica difícil falar( assim,só de memória).
Também não cheguei a estudar o assunto, mas o que me transmite esse cinema seria algo bem próximo ou mesmo exatamente aquilo que Jung chamava de "natureza- sombra" e Lynch aponta como ela é fatal,inevitável, que penetra mesmo em nossas bases, sobretudo nas bases dessa civilização norte-americana, que trabalha em cima da fabricação de sonhos, juntamente ao pragmatismo.
Talvez por isso mesmo, "Cidade dos sonhos", só que não Hollywood.Dessa vez, há um sonho não fabricado,não pré-ordenado,mas algo que nos constitui bem mais, extremamente. Assim,esse filme(e talvez todo Lynch)acabe por lembrar mesmo a Dália Negra, como vc sugeriu.Só que, em De Palma, chega a haver um escracho, um certo acerto de contas punk com a indústria(Los Angeles,o "outro lado da moeda", que o inocente protagonista até então não conhecia e continuará parcialmente a não compreender, por ser algo que vai bem mais longe que tudo que ele possa imaginar, as entranhas da América, como bem dizia Scorsese a respeito do que se tratava o "noir") ,enquanto Lynch "apenas" potencializa essas camadas,essas tensões entre um "real"(o sonho fabricado e o pragmático) e o outro real ,"a alteridade", apontando os intervalos e as ausências. Dessa forma, justifica-se Lynch ser visto como cineasta formalista, pois como já dizia Jung, a própria forma, a criação, a arte, o "novo", se alimenta dessa "natureza-sombra".
By Anonymous, at 10:13 PM
"se alimentam"
By Anonymous, at 9:46 AM
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