LARANJA MECÂNICA
INÁCIO ARAUJO
Também na TV, um programa inglês.
Uma gordinha vai a uma médica, uma oriental despachada, e constata que deve emagrecer e parar de fumar.
Um personal trainer prova por A + B que a gordinha tem que emagrecer e fazer exercícios.
Ela fica feliz depois de um mês: perdeu uns quatro quilos.
Mas vai fazer aniversário e quer comemorar. Quer tomar seis doses de vodka. A doutora japonesa diz que mulher só pode tomar duas. Mas a garota insiste que quer tomar seis. Então a doutora manda ela ver o trabalho da polícia que recolhe os bêbados no fim de noite.
E a gordinha se converte. Percebe que não pode beber tanto.
O Kubrick filmou há uns 35 anos essa história, a da conversão do cara demoníaco por uma lavagem cerebral.
Era uma crítica.
Agora, não há mais crítica alguma. A lavagem cerebral está aí a toda hora, minuto a minuto, dizendo o que devemos ser e por que.
A dra. Hitler nipônica mais a gordinha e seu personal trainer, ao mesmo tempo em que encenam a lavagem cerebral a estão praticando (em nós).
Caramba, a ficção científica, nesse particular, acertou em cheio. Desgraçadamente em cheio.
INÁCIO ARAUJO
Também na TV, um programa inglês.
Uma gordinha vai a uma médica, uma oriental despachada, e constata que deve emagrecer e parar de fumar.
Um personal trainer prova por A + B que a gordinha tem que emagrecer e fazer exercícios.
Ela fica feliz depois de um mês: perdeu uns quatro quilos.
Mas vai fazer aniversário e quer comemorar. Quer tomar seis doses de vodka. A doutora japonesa diz que mulher só pode tomar duas. Mas a garota insiste que quer tomar seis. Então a doutora manda ela ver o trabalho da polícia que recolhe os bêbados no fim de noite.
E a gordinha se converte. Percebe que não pode beber tanto.
O Kubrick filmou há uns 35 anos essa história, a da conversão do cara demoníaco por uma lavagem cerebral.
Era uma crítica.
Agora, não há mais crítica alguma. A lavagem cerebral está aí a toda hora, minuto a minuto, dizendo o que devemos ser e por que.
A dra. Hitler nipônica mais a gordinha e seu personal trainer, ao mesmo tempo em que encenam a lavagem cerebral a estão praticando (em nós).
Caramba, a ficção científica, nesse particular, acertou em cheio. Desgraçadamente em cheio.
4 Comments:
Desculpe voltar ao assunto do post anterior.
Me lembro de ler na sua crítica sobre "Femme Fatale" (quando do lançamento), que vc achava que no filme havia um certo conforto fácil em abandonar qualquer noção de verdade e só tratar de embaralhamento das coisas. Podia não ser literalmente isso, mas em sentido, era. Acho até que vi reproduzido o texto junto com outras críticas brasileiras, numa versão traduzida parao inglês, em um mega site dedicado ao De Palma feito por um fã.
Lembro disso não como uma cobrança de coerência, ou coisa assim. Só acho interessante essas mudanças de foco na análise de um filme, das idéias de um diretor. Prova de um tipo de crítica salutar.
Por isso, queria saber o que o Inácio Araújo pensa hoje sobre o filme.
By Anonymous, at 10:01 AM
Inácio,
É isso mesmo! Entende o que você está dizendo quem já viu aquele outro programa inglês em que uma nutricionista baixinha e "serelepe" (simpatiquinha mas dura na queda). A impressão é que, se precisar bater no gordinho, ela bate!
Outro dia assisti um episódio do "The Apprentice" original, com o Donald Trump... e fiquei chocado! O patrão não precisa nem se esforçar para estimular a tensão. Os candidatos-atores comem os fígados uns dos outros. Agem como verdadeiros animais insanos competindo por uma vaga. Chega a dar um nó no estômago ouvi-los falar naquela famigerada "sala de reunião". Se você não está acostumado a tanta agressividade, sai da experiêncio meio torto... O tal do Justus torna-se um simpático "bom mocinho" comparado àquilo.
Mas o Inácio tocou no ponto: eles não só ENCENAM a lavagem cerebral... eles a operam bem ali, diante dos nossos olhos!!! Como se nada, absolutamente nada, pudesse ser diferente!
Abraços,
Carlos
By Anonymous, at 11:51 AM
Bravo, Inácio, bravo.
E o pior é que eu vi esse programa da gordinha...com aquela médica oriental e etc.
By Anonymous, at 7:16 AM
Marcos,
não me lembro mais do que escrevi sobre Femme Fatale, mas tenho a impressão de que existe até uma insuspeita continuidade na visão que tenho do diretor.
De fato, me parece faltar a Femme Fatale um certo rigor na abordagem da questão, um afastamento do confronto com a verdade.
No Dália Negra, justamente, tenho a impressão de que ele corrige um pouco isso, instaura uma tensão de que senti falta no outro.
By Anonymous, at 7:23 AM
Post a Comment
<< Home