Canto do Inácio

Thursday, August 30, 2007

SEM PLÁGIO, "DÁLIA NEGRA" SAÚDA FILME NOIR
INÁCIO ARAUJO

Que vivemos em um mundo de aparências, sabe-se. Que o cinema toma parte ativa nesse mundo, também. Mas o que são precisamente aparências? E o que então é real ou verdadeiro?

Essas são indagações lançadas pelos filmes de Brian De Palma, e é em função delas que suas referências ao cinema clássico não se confundem com a atividade leviana do plagiário.

Trata-se, sim, de observar nos clássicos -em especial Hitchcock- a maneira calma como a imagem e a verdade se entrelaçavam para formar uma só coisa. A isso, De Palma contrapõe o tumulto do moderno, a dificuldade de, entre coisa representada e representação, achar-se uma adequação, algo que se chame de verdade.

Em "Dália Negra", isso afeta a protagonista, Kay (Scarlett Johansson), criada à semelhança da Lana Turner de "O Destino Bate à Sua Porta". Portanto, De Palma não somente nos remete ao filme noir dos anos 40, como o evoca diretamente, o traz para o interior do novo filme.

Com isso, criam-se dois significados. O primeiro, afirmativo, põe a semelhança entre as atrizes como caução de verdade: se acreditávamos em Lana, devemos acreditar na réplica.

O segundo é dubitativo: por que deveríamos crer nessa réplica? Essa semelhança não serviria apenas para manifestar a distância entre "aquele mundo" e o presente? As questões que De Palma lança são centrais no cinema contemporâneo, assim como seus filmes.

(texto publicado na Folha de S. Paulo do dia 26 de agosto de 2007)

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