O DEBATE II
INÁCIO ARAUJO
Há um aspecto interessante nisso tudo, que está no Blog da Ilustrada, onde o Leo abriu a questão: o que você acha da polêmica e tal.
E há opiniões muito clichê, acho que de gente que nem vai ao cinema, só vive de blog em blog na internet, mas tudo bem.
Um diz uma coisa justa, talvez “justa”, com aspas. É mais ou menos assim: crítico é que nem juiz de futebol. Gosta de aparecer à custa dos outros e ter a mãe xingada.
Se o juiz gosta de aparecer ou não, ou de ter a mãe xingada eu não sei, acho que vai de cada um. E com os críticos eu também não sei.
Mas o crítico é mesmo que nem juiz de futebol, isto é: uma chatice que atrapalha o time da gente e marca impedimento quando o atacante está com a bola; ou que não marca pênalti quando a gente acha que nosso jogador foi empurrado, e tal.
Porém se não houvesse juiz como é que a coisa ia se resolver? Por mais desagradável que se considere, é preciso que haja uma mediação. Ela pode ser o crítico. Ou pode ser a publicidade. A escolher.
Outro leitor (ou será o mesmo?) diz que o importante é o gosto de cada um, e o crítico que se lixe.
Também estou de acordo. Acho que se existe uma vantagem no cinema é que qualquer um pode gostar ou não gostar. Aliás, é desejável que ele goste do que gosta, não do que eu gosto, senão ele é um não ser.
Mesmo aí, é preciso ponderar que, se o fulano vai para casa, esquece o filme e vai manifestar suas preferências em outros blogs, tudo bem. Mas se ele se pergunta sobre por que tal filme o comoveu tanto (ou não), ou por que ele gostou tanto de certo filme de que outras pessoas não gostaram (ou gostaram), por que papai gostava tanto de um filme que a ele parece ridículo e, inclusive, em preto e branco.
Bom, se tudo isso correr pela cabeça do cara, o que não é muito provável que ocorra, mas pode acontecer se a namorada disser que ele é uma besta insensível porque não gostou de tal filme, isso vai levá-lo a indagar se a subjetividade é mesmo um absoluto, se tudo acaba aí, se não existe nada além do gosto/não gosto. E aí já estará no caminho da crítica, isto é, da história.
Por fim: há os que dizem que gostam de crítica, sim. Mas do Paulo Emilio, do Moniz Vianna etc. Não tem importância que os mencionados sejam, eventualmente, antípodas. Aí estamos diante desse absoluto: o passado era melhor. Bom, com o passado ninguém pode.
INÁCIO ARAUJO
Há um aspecto interessante nisso tudo, que está no Blog da Ilustrada, onde o Leo abriu a questão: o que você acha da polêmica e tal.
E há opiniões muito clichê, acho que de gente que nem vai ao cinema, só vive de blog em blog na internet, mas tudo bem.
Um diz uma coisa justa, talvez “justa”, com aspas. É mais ou menos assim: crítico é que nem juiz de futebol. Gosta de aparecer à custa dos outros e ter a mãe xingada.
Se o juiz gosta de aparecer ou não, ou de ter a mãe xingada eu não sei, acho que vai de cada um. E com os críticos eu também não sei.
Mas o crítico é mesmo que nem juiz de futebol, isto é: uma chatice que atrapalha o time da gente e marca impedimento quando o atacante está com a bola; ou que não marca pênalti quando a gente acha que nosso jogador foi empurrado, e tal.
Porém se não houvesse juiz como é que a coisa ia se resolver? Por mais desagradável que se considere, é preciso que haja uma mediação. Ela pode ser o crítico. Ou pode ser a publicidade. A escolher.
Outro leitor (ou será o mesmo?) diz que o importante é o gosto de cada um, e o crítico que se lixe.
Também estou de acordo. Acho que se existe uma vantagem no cinema é que qualquer um pode gostar ou não gostar. Aliás, é desejável que ele goste do que gosta, não do que eu gosto, senão ele é um não ser.
Mesmo aí, é preciso ponderar que, se o fulano vai para casa, esquece o filme e vai manifestar suas preferências em outros blogs, tudo bem. Mas se ele se pergunta sobre por que tal filme o comoveu tanto (ou não), ou por que ele gostou tanto de certo filme de que outras pessoas não gostaram (ou gostaram), por que papai gostava tanto de um filme que a ele parece ridículo e, inclusive, em preto e branco.
Bom, se tudo isso correr pela cabeça do cara, o que não é muito provável que ocorra, mas pode acontecer se a namorada disser que ele é uma besta insensível porque não gostou de tal filme, isso vai levá-lo a indagar se a subjetividade é mesmo um absoluto, se tudo acaba aí, se não existe nada além do gosto/não gosto. E aí já estará no caminho da crítica, isto é, da história.
Por fim: há os que dizem que gostam de crítica, sim. Mas do Paulo Emilio, do Moniz Vianna etc. Não tem importância que os mencionados sejam, eventualmente, antípodas. Aí estamos diante desse absoluto: o passado era melhor. Bom, com o passado ninguém pode.
4 Comments:
Inácio,
escrevi algo parecido certa vez no blog do Calil.
O grande problema reside, a meu ver, em parte do público querer (e ficar frustado quando não recebe) algo que a crítica não pode dar. E o equívoco é, em certa medida, alimentadeo por parte da crítica (e/ou pelos meios onde ela é publicada).
Um texto crítico sobre uma obra de arte não pode, jamais, ser visto como um guia sobre o que ler, o que não ler; o que ver, o que não ver. Ou um imperativo "goste isto", "não goste daquilo". Quem busca isso se frusta, sente que comprou gato por lebre, fica emputecido pq o crítico desancou um filme que ele achou primoroso. Esse leito quer, no fundo, críticas que lhe acariciem o ego, reafirmem a o bom gosto infalível que ele enxerga em si mesmo.
Vários críticos, claro, parecem vestit a carapuça (e nenhum deles mais, a meu ver, do que aquela odiosa dupla do "thumbs up" dos EUA, Roeper e alguma coisa).
Boa crítica é aquela que mantém (lá vem o clichê) um diálogo maduro com a obra e com o público.
Para mim, o bom crítico (tipo um Giulio Carlo Argan, um Godard, um Rohmer, um Inácio) uso sua cultura geral, seu conhecimento específico e seu excelente texto para melhor explicar traduzir em palavras o modo como interpreta uma obra, de que forma esta o provoca, emociona, enoja, irrita, cansa, anima. De posse dos mesmos intrumentos tenta, também, entender que impacto uma obra tem, teve, pode vir a ter, no público e junto a outros artistas.
Ao consumidor da crítica, pouco deveria nos importar se com ela concordamos ou não (e alguns de seus textos de qua mais gosto exprimem por vezes idéias completamente diferentes das minhas). Por meio dela temos acesso a um ponto de vista interessante (espera-se), diverso do nosso. E com isso enriquecemos um pouco o nosso olhar.
Abração,
Mug
PS - Em tempo: acho Claude Lelouch um saco.
By Anonymous, at 7:11 AM
Sei que estou atrasadíssima, mas preciso agradecer a a Diego pela postagem da crítica de Inácio a "Santiago", de João Moreira Salles, que eu tanto pedi. Obrigadíssima. Vou ler correndinho.
By Anonymous, at 1:41 PM
Tô por fora dessa nova polêmica sobre a crítica cinematográfica, mas confesso duvidar da possibilidade de que ela traga alguma novidade para uma pessoa de 50 anos como eu. Em linhas gerais, concordo com mug.
By Anonymous, at 1:45 PM
Pô, Mug,
obrigado pela companhia em que vc. me coloca.
O frio canadense deve estar te afetando o juízo. Mas, ainda assim, como não ficar comovido?
By Anonymous, at 2:57 PM
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