II
INÁCIO ARAUJO
Mas o assunto que dá pano pra manga é a construção da narrativa.
No “Mais” da Folha, dois artigos: o de Jorge Coli observa as várias camadas que vão se adicionando no filme: policiais, estudantes, consumidores, traficantes, gente do morro, não do morro, etc. e que dão esse caráter tão complexo ao problema – e que o filme resolve muito bem. O filme se encaminha para uma tragédia, que Jorge vê como decorrente da própria política de repressão às drogas.
Laymert Garcia escreve um artigo que começa muito bem, como análise. Eu discordo dele a partir do momento em que assume a idéia de “herói” para o capitão Nascimento. Me parece, ao contrário, que a dissociação entre o narrador e a narrativa seja um ponto forte do filme. Afinal, que herói é esse que não consegue um herdeiro (tanto na vida pessoal como na profissional, e na primeira em decorrência da segunda)?
Não há herói. Há apenas um progressivo enlouquecimento, dele e de seu herdeiro, o aspirante que sobrevive, e que leva ao assassinato final.
Ao mesmo tempo, me parece muito pertinente o que diz o Laymert sobre o filme (ou o protagonista, a diferença me parece clara e importante demais para ser deixada de lado) considerar que o tempo da análise do problema já passou, de tal modo que estudar o que diz Foucault parece um exercício de futilidade. O filme, de fato, entra no coração da guerra, trata de uma guerra.
Mas, à medida que caminhamos para o final percebemos que também essa guerra é um non sense, porque separar o mundo entre traficantes criminosos e policiais bons, habitantes bons e policiais corruptos, entre bem e mal, certo e errado simplesmente não faz sentido.
INÁCIO ARAUJO
Mas o assunto que dá pano pra manga é a construção da narrativa.
No “Mais” da Folha, dois artigos: o de Jorge Coli observa as várias camadas que vão se adicionando no filme: policiais, estudantes, consumidores, traficantes, gente do morro, não do morro, etc. e que dão esse caráter tão complexo ao problema – e que o filme resolve muito bem. O filme se encaminha para uma tragédia, que Jorge vê como decorrente da própria política de repressão às drogas.
Laymert Garcia escreve um artigo que começa muito bem, como análise. Eu discordo dele a partir do momento em que assume a idéia de “herói” para o capitão Nascimento. Me parece, ao contrário, que a dissociação entre o narrador e a narrativa seja um ponto forte do filme. Afinal, que herói é esse que não consegue um herdeiro (tanto na vida pessoal como na profissional, e na primeira em decorrência da segunda)?
Não há herói. Há apenas um progressivo enlouquecimento, dele e de seu herdeiro, o aspirante que sobrevive, e que leva ao assassinato final.
Ao mesmo tempo, me parece muito pertinente o que diz o Laymert sobre o filme (ou o protagonista, a diferença me parece clara e importante demais para ser deixada de lado) considerar que o tempo da análise do problema já passou, de tal modo que estudar o que diz Foucault parece um exercício de futilidade. O filme, de fato, entra no coração da guerra, trata de uma guerra.
Mas, à medida que caminhamos para o final percebemos que também essa guerra é um non sense, porque separar o mundo entre traficantes criminosos e policiais bons, habitantes bons e policiais corruptos, entre bem e mal, certo e errado simplesmente não faz sentido.
8 Comments:
Além deste maniqueísmo idiota, parece que tudo na vida é sistema. Polícia é sistema. ONGs, sistema. Tráfico, idem. Classe média, idem.
E a linguagem (narativa) do filme também é com suas concessões comerciais de manipulação. Este determinismo foucaultiano parece-me preguiçoso e reacionário. Ah, e o BOPE? Também é sistema, pois há o processo de seleção, digo exclusão. E acho que já está na hora de parar com esta meritocracia em torno de um cineasta que "mostra" a verdade ou que faz não o melhor plano, mais o possível. Me lemba o texto do Truffaut sobre Johnny Guitar, no qual ele compara Hawks à Ray. Parafraseando-o:
"Ouso a dizer > quem gostou disto deixem de ir ao cinema, pois nunca entederem a beleza de uma idéia, um plano.
By William Salgado, at 7:39 AM
Inácio, acompanho você na Folha há muito tempo e há alguns meses visito este blog. Considero você um dos melhores "analistas" de cinema no Brasil e gostaria de saber se você só oferta a disciplina de história e estética do cinema com duração de 6 meses?
Sobre "Tropa de Elite" gostaria de fazer uma pergunta: Cinematograficamente falando, qual o problema de um filme não ter um ponto de vista?
A conclusão do seu primeiro texto acerca do filme me passou a impressão de que você acha um pecado/erro um filme não ter um ponto de vista. É isso ou entendi errado? Gostaria que você discorresse um pouco sobre a questão.
Abraço
By É Bom ou Não?, at 8:57 PM
Pra quem delira e goza com 'Tropa de Elite', o filme de piratas: Você está doente. Que pena.
Pessoas normais assistem a um filme como 'Tropa de Elite' e torcem o nariz. E têm vontade de abaixar o som do Cinema.
Pra você que já foi assaltado (ou não) nessa semana:
Em vez de ver 'Tropa de Elite' de novo, pra aplaudir a violência em pé, fascistamente, pegue um DVD de, digamos, ‘Fanny e Alexander’ ou ‘Em busca do Ouro’ ou ‘Amor a Flor da Pele’. Ou ‘Bye Bye Brasil’.
Experiências muuuuuito mais dignas e ricas do que a rasa realidade crua e torpe de uma ex-cidade brasileira (qualidade de vida abaixo de zero, you know).
By Anonymous, at 9:05 AM
Puta que o pariu, Cac� Dieguies agora � grande cinema, e filme violento n�o pode ser bom. Show de horrores esse coment�rio a� de cima.
By Anonymous, at 7:17 PM
Sem contar que nao tem nada a ver com os outros coment�rios, ou com o post. Na boa, se enterra cara, ainda assina por 'deus', deve ser homrista.
By Anonymous, at 7:20 PM
humorista*
By Anonymous, at 7:20 PM
Dieeego!
Por favor, reproduz o texto sobre o filme "Santiago" que o Inácio publicou na Folha. Não sou assinante do UOL e, por isso, não tenho acesso a ele.
(No post sobre a volta, Inácio respondeu à minha solicitação dizendo que comentou o filme no jornal e que vc poderia reproduzi-lo).
Agradecimentos antecipados.
By Anonymous, at 10:41 AM
Ana, vou postar o texto em breve.
By Anonymous, at 12:04 PM
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