Canto do Inácio

Friday, November 02, 2007

O DEBATE
INÁCIO ARAUJO

A polêmica Mostra vs. Crítica (vamos pôr assim para simplificar) que animou os trabalhos deste ano é algo de que todo mundo me pergunta.

E, francamente, não sei o que dizer, porque não tenho nenhuma opinião formada.

Para mim, a Mostra em si é um ato crítico, de 31 anos já, que devemos ao Leon Cakoff. Hoje ela passa num número inacreditável de cinemas. Parece que todo mundo quer projetar esses filmes esquisitos, que aparecem da China, da Coréia, do Egito, etc.

E vejo filas enormes nas portas dos cinemas, cheias de gente dispostas a participar do evento.

O que tem a crítica com isso?

Será que esse sucesso da Mostra é meramente publicitário? Será que esses espectadores vêm para participar de um evento social? Para uma parte deles, sem dúvida. E não é mau que seja assim. Me parece ótimo, ao contrário, que o cinema seja um evento social.

Uma outra parte, no entanto, virá em busca de atualização. Seja visitando os núcleos históricos, seja procurando se inteirar das novidades, busca aperfeiçoar sua cultura cinematográfica. Que os chamemos de cinéfilos ou não, são as pessoas que podem dialogar com os críticos.

Estarão os críticos à altura desse diálogo? Essa a questão levantada por Cakoff e Toubiana, embora em diferentes contextos. Tenho a impressão de que o Toubiana tem uma pinimba com seus sucessores na direção dos “Cahiers”, que foram impostos pelo “Lê Monde”. Acho que ele tem razão, aliás.

A questão do Cakoff me parece um pouco mais confusa. Francamente, não entendi de onde ele partiu (de uma recusa da Folha em entrevistar o Lelouch? Mas, caramba, se um jornal não tem direito a esse tipo de opção, o que lhe resta?). Mas acho que o ponto a que ele chegou diz respeito ao exibidor hoje ele também é.

É verdade que o cinema está perdendo público (não sei se a crítica está, como ele diz, não tenho como aferir). Isso eu constato cada vez que vou ao cinema. Mas acho que o motivo não tem nada a ver com cinefilia, nem com crítica.

A cinefilia que eu vejo hoje está descolada dos cinemas. Está na internet. O pessoal baixa adoidado filmes que nunca se verá no circuito ou na cinemateca, ou onde quer que seja. De outro lado, temos a indústria, que me parece estar se repetindo, se enfraquecendo, meio em crise. Pelo menos é isso que sugere o que nos chega aqui da produção americana.

Mas o cinema vai se safar dessa. Nunca digo que o cinema está na decadência, porque isso é o que eu leio desde 1928, desde que entrou o sonoro.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home