MOSTRA
INÁCIO ARAUJO
Do que vi, o Rivette me pareceu o melhor. “Não Toque no Machado”. Alguém falou que parecia o Manoel de Oliveira. É verdade. Mas o Rivette é apaixonado pelo teatro, pela teatralidade do mundo, e nada é mais teatral, nada supera o amor em matéria de representação.
E temos ali dois amantes, um representando para o outro, todo o tempo. Primeiro ela, depois ele. E o amor sendo levado pela representação: existindo por ela e matando os amantes por ela.
Me pareceu soberbo.
Sidney Lumet. Bom filme, mas um pouco Lumet demais. E o final denuncia as fraquezas anteriores. Que história besta a do pai matar o filho! O cara (filho) tinha perdido, a mulher, o dinheiro, o emprego, o avião, a mãe. O inferno era ficar vivo, é evidente.
Entrevista, do Steve Buscemi: tão esperto que evolui para a quase idiotia.
A Questão Humana: me pareceu muito forte. A morte da linguagem: me lembrou Godard, Alphaville. A ditadura do sentido único. A Bíblia.
Téchiné: quase concordo com o Wolf. Acho que começa muito bem, mas depois de certo ponto derrapa. As boas intenções são tantas que acaba dominando o filme uma espécie de vontade do autor de que as coisas sejam assim, de que todas as pessoas envolvidas com a coisa sejam boas. Na verdade, o que me chamou mesmo a atenção foram os novos peitos da Béart. Ela parece que exige em contrato que sejam mostrados. A toda hora, pimba. Caramba, eu preferia ela de verdade, como era. Mas ela parece tão feliz desse jeito que não dá pra discordar.
A Retirada: Amos Gitai forte como sempre. Parece muito à vontade quando está em Israel. Aquela mulher cantando no início, não sei porque. Achei chato. Mas são só uns minutos. O resto é a Babel do Oriente Médio.
Inútil: Jia Zhang-Ke é bom demais, esse cara. Belo documentário sobre moda, modas, pessoas, transformações chinesas.
David Lynch: queria que alguém chegasse e me dissesse: é isso. Estou perdido, mesmo sabendo que esse labirinto não é coisa sem sentido, é espetacular. Vive-se na incerteza com ele.
O Passado: filme muito sem vida. Parece que fez forçado. Melo total, mas chega no fim a platéia estava rindo. Não é que fosse ridículo, não era. Mas a platéia percebeu que aquilo tinha uma vocação incrível para comédia. Seria uma comédia conjugal antológica. É um melo qualquer.
INÁCIO ARAUJO
Do que vi, o Rivette me pareceu o melhor. “Não Toque no Machado”. Alguém falou que parecia o Manoel de Oliveira. É verdade. Mas o Rivette é apaixonado pelo teatro, pela teatralidade do mundo, e nada é mais teatral, nada supera o amor em matéria de representação.
E temos ali dois amantes, um representando para o outro, todo o tempo. Primeiro ela, depois ele. E o amor sendo levado pela representação: existindo por ela e matando os amantes por ela.
Me pareceu soberbo.
Sidney Lumet. Bom filme, mas um pouco Lumet demais. E o final denuncia as fraquezas anteriores. Que história besta a do pai matar o filho! O cara (filho) tinha perdido, a mulher, o dinheiro, o emprego, o avião, a mãe. O inferno era ficar vivo, é evidente.
Entrevista, do Steve Buscemi: tão esperto que evolui para a quase idiotia.
A Questão Humana: me pareceu muito forte. A morte da linguagem: me lembrou Godard, Alphaville. A ditadura do sentido único. A Bíblia.
Téchiné: quase concordo com o Wolf. Acho que começa muito bem, mas depois de certo ponto derrapa. As boas intenções são tantas que acaba dominando o filme uma espécie de vontade do autor de que as coisas sejam assim, de que todas as pessoas envolvidas com a coisa sejam boas. Na verdade, o que me chamou mesmo a atenção foram os novos peitos da Béart. Ela parece que exige em contrato que sejam mostrados. A toda hora, pimba. Caramba, eu preferia ela de verdade, como era. Mas ela parece tão feliz desse jeito que não dá pra discordar.
A Retirada: Amos Gitai forte como sempre. Parece muito à vontade quando está em Israel. Aquela mulher cantando no início, não sei porque. Achei chato. Mas são só uns minutos. O resto é a Babel do Oriente Médio.
Inútil: Jia Zhang-Ke é bom demais, esse cara. Belo documentário sobre moda, modas, pessoas, transformações chinesas.
David Lynch: queria que alguém chegasse e me dissesse: é isso. Estou perdido, mesmo sabendo que esse labirinto não é coisa sem sentido, é espetacular. Vive-se na incerteza com ele.
O Passado: filme muito sem vida. Parece que fez forçado. Melo total, mas chega no fim a platéia estava rindo. Não é que fosse ridículo, não era. Mas a platéia percebeu que aquilo tinha uma vocação incrível para comédia. Seria uma comédia conjugal antológica. É um melo qualquer.
9 Comments:
Inácio, adorei os comentários. Estou ansioso para ver "O Passado" porque fiquei muito impressionado com o livro. Pelo seu comentário, já vi que vai ser mais um filme menor que o livro. Você viu o "Cada um com seu cinema"? Tirando alguns curtas errôneos, achei ótimo. Se puder, continue postando suas impressões da Mostra. Abs.
By Wolf, at 6:47 AM
Também achei o Rivette parecido com Oliveira, o que é ótimo e serve para educar alguns olhares mal-acostumados a beleza da palavra dita. E estou louco para ver o do Gitai. Ir à Mostra sem ver Oliveira ou Gitai não é ir à Mostra. Um abraço.
By Lorde David, at 7:14 AM
Sim, definitivamente, continue postando, mestre!
By Anonymous, at 7:36 AM
Sim, Rivette e "Questão Humana" estão entre os melhores que vi até agora. Falando em mistério e incertezas, vendo "El Otro" entendo porque o cinema argentino dá de dez a zero no nosso. Muito bom. "Help me Eros" é um dejá vu total, simulacro de Tsai Ming-Liang. Uma pena. Takeshi Kitano me prendeu e divertiu por um tempo, mas depois deixei para lá. Tenho boas expectativas em relação a "Inútil" e "Vocês, os vivos". Inácio, continue com essas impressões curtinhas sobre filmes da Mostra, mesmo que nem sempre seja possível ver os elogiados e evitar as "roubadas".
By Anonymous, at 9:27 AM
This comment has been removed by the author.
By Wolf, at 10:10 AM
Aliás, Inácio, o que você achou do texto do leon cakoff publicado ontem na FSP?
Em tempo: também não gostei dos peitos da Béart. Não conseguia prestar atenção em mais nada na tela quando eles surgiam.
By Wolf, at 11:13 AM
Puxa, Diego, bota o comentário de Inácio sobre "Santiago" aí, bota...
By Anonymous, at 8:06 PM
Não me perdôo até agora por ter trocado "Não toque no machado" por uma aposta-no-escuro argentina chamada "Las vidas posibles". Repescagem, pleeeease?
By Anonymous, at 10:03 PM
Inácio, não vi o filme do Rivette, mas o que você escreveu sobre ele, "dois amantes, um representando para o outro, todo o tempo", é basicamente o que acontece num filme do Andrzej Wajda de 1960, lançado agora em DVD: Os Inocentes Charmosos. Na maior parte do tempo vemos um casal num apartamento fazendo um jogo de sedução, representando um para o outro, e num dado momento percebemos que estão representando também para a câmera e, consequentemente, para nós espectadores. É muito interessante! Abraço.
By Anonymous, at 6:17 AM
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