Canto do Inácio

Friday, May 16, 2008

"BEIJA-ME" OBSERVA DESEJO COM SARCASMO
INÁCIO ARAUJO


Em torno de Billy Wilder, existe um mistério: por que certos de seus filmes fazem sucesso, enquanto outros passam em branco? Por que o belo "Fedora" nem chegou ao Brasil, ou "Amigos, Amigos, Negócios à Parte" foi esnobado solenemente, para ficar apenas com dois casos.

Nessa categoria também entra "Beija-me, Idiota", se bem que nesse caso existe o estigma da imoralidade. Pois nosso conservadorismo não gosta nem de ouvir falar da história do compositor talentoso, desconhecido, caipira, que, para ter a chance de ser revelado, praticamente entrega sua mulher a um famoso cantor (Dean Martin).

Pouco importa também que sua mulher, no caso, não seja bem sua mulher, mas a prostituta da cidade (Kim Novak): as trocas de pessoas, mais as trocas de afetos que se vê põem em certo risco os hábitos matrimoniais estritos e desencadeiam essa coisa caótica que é o desejo. O desejo que Wilder observa não com ironia, como Lubitsch, mas com sarcasmo.

(texto publicado na Folha de S. Paulo do dia 16 de maio de 2008)

4 Comments:

  • Olá Inácio,

    Meu nome é Sergio Batisteli, sou estudante do 4º ano de jornalismo e estou escrevendo um livro-reportagem sobre a carreira da atriz Helena Ignez, que é o tema do meu TCC.
    O único canal de comunicação que encontrei para me correspoder com o senhor é o seu blog, peço por favor algum e-mail ou telefone para poder conversarmos melhor a respeito de Helena e se possível agendarmos uma entrevista.
    O meu e-mail é sergiohpg#ig.com.br e meu blog www.sergiohpg.blig.com.br

    Aguardo por gentileza o seu contato
    Obrigado pela atenção!
    Sergio

    By Blogger Sergio Batisteli, at 10:08 PM  

  • Vi Fedora ontem e fiquei bastante impressionado, chega a ser melhor que o crepúsculo dos deuses. É impressionante como ele consegue fazer um filme desse porte no final de sua carreira, atualizando seu cinema clássico com comentários pertinentes a realidade da indústria cinematográfica e a angústia que a eternidade do cinema traz.

    By Anonymous Anonymous, at 6:05 AM  

  • Inácio, hoje o filme do Clint está passando em Cannes. Como sei da sua relação com ele, acabei me indagando. Por que vc nunca participa da cobertura da "Folha" de Cannes, ou de Berlim, Veneza, etc? Seria legal contar com sua pena escrevendo sobre estes filmes.

    By Anonymous Anonymous, at 9:01 AM  

  • DUAS RESPOSTAS

    Sergio,

    infelizmente estou sem tempo até para escrever aqui no "canto", quanto mais para conversar assim. Depois, não sei tanto assim sobre a Helena, embora ache que ela é o máximo.
    Não sei se vc. pode esperar até lá, mas espero estar um pouco menos sobrecarregado no segundo semestre.

    Anomimous:
    eu estive em Cannes em 1978, não fazia a cobertura para nenhum jornal. Fiquei duas semanas entrando e saindo dos cinemas, de 9h da manhã a meia-noite. No fim do festival estava exausto. Passei 15 dias sem nem poder passar em frente a um cinema. E, em linhas gerais, acho que a gente assiste os filmes tão ansiosamente, tão afoitamente, que nem consegue ver direito o que está na tela.
    Então, digamos que estou bem assim, longe de Cannes. Os filmes como o do Clint vão chegar aqui fatalmente. Os demais, com a internet, o que interessa eu termino vendo. Vi "Agente Triplo" do Rohmer, recentemente. Espero escrever a respeito. Enfim, o que eu sinto falta por não estar em Cannes é pelo contato com alguns críticos amigos, com pessoas com quem seria bom conversar.

    By Anonymous Anonymous, at 11:40 AM  

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