Canto do Inácio

Wednesday, July 16, 2008

BURTON CELEBRA IMAGINAÇÃO EM "PEIXE GRANDE"
INÁCIO ARAUJO


"Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas" foi recebido com frieza, quando lançado em cinemas.

Talvez essa rejeição tenha alguma relação com o fato de, nas livrarias, tantos leitores preferirem biografias às obras de ficção. Porque a biografia pelo menos traz "uma história que aconteceu de verdade", como alguém justificou.

Por que, atualmente, essa obsessão pela verdade? Então "A Metamorfose", de Kafka, não aconteceu "de verdade"? Nem "O Médico e o Monstro"? Ou mil outras histórias escritas ou filmadas?

Não, essa recusa da imaginação está mal explicada. Talvez a ficção contemporânea seja insuficiente. Talvez o homem contemporâneo seja um cético doentio. Ou o mundo seja tão mentiroso que a biografia lhe oferece o consolo da "verdade".

O fato é que, nessas circunstâncias, não é de estranhar que "Peixe Grande", um elogio da mentira e da imaginação por Tim Burton, tenha causado tanta desconfiança.

(texto publicado na Folha de S. Paulo do dia 15 de julho de 2008)

3 Comments:

  • Diego, tem o texto do Inácio sobre O Sonho de Cassandra? Se tiver e não puder postar no blog, poderia me mandar por e-mail?
    r.cavalo@gmail.com

    Abraços!

    By Anonymous Anonymous, at 12:25 PM  

  • Esse Peixe Grande ainda é muito incompreendido mesmo,mas tem muitos admiradores já.Burton mudou radicalmente o diretor de fotografia, é um filme menos escuro que os demais e ficou sem aquela embalagem de "filme de Burton" que as pessoas costumam esperar para reconhecê-lo.A acidez crítica é mais indireta também,parece ser mesmo uma crítica à nossa parca imaginação pós-moderna e,sobretudo,à nossa falta de fé.Outra característica que vai contra nossa época é a presença de fortes projetos de mudanças da parte do protagonista:ele crê em utopias,na força da "Visão" e é extremamente empenhado em realizá-las.Num certo sentido é um filme de demiurgo,à maneira de musicais antigos, que crê na transfiguração de realidades dadas pelo imaginário,mas está bem longe das porra-louquices da dita contra-cultura que o público "cult" costuma adorar.Isso tudo dificulta um "enquadramento " fácil e nosso niilismo endêmico, intelectualóide não suporta a idéia de esperança fazendo parecer que é proibido,"tolo" a uma arte enveredar por aí,depois das vanguardas,etc,etc...
    Isso tudo me faz lembrar aquele elogio que Lacan fazia da "tolice" bem empregada que desarmaria nossas vãs pretensões de inteligência,de "realidades",de "cultura".Pois o que há no filme é bem mais que realidades fixas,mas desejos vivos.

    By Anonymous Anonymous, at 12:49 PM  

  • Inácio:
    Mais um ... Depois de Paris...
    Geronimo.

    By Anonymous Anonymous, at 7:36 AM  

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