A VERDADE É OU NÃO "BASEADA EM UM FATO REAL"?
INÁCIO ARAUJO
INÁCIO ARAUJO
O que me impressiona em "O Império do Sol" é menos o filme do que o fato de a história ser real. Ou seja, o autor do livro, J.G. Ballard, é aquele garotinho que se perde dos pais nos momentos confusos em que tropas japonesas invadem Xangai, no comecinho da Segunda Guerra.
Estávamos em 1987, e existe ali um esforço evidente de Spielberg para apagar a imagem do menino, que não conseguia crescer, fazendo filmes "sérios". E não estranha que Ballard, tendo passado por tais experiências, tenha vindo a se tornar o escritor de esquisitices tipo "Crash" (esquisito, mas muito interessante). Com efeito, perdido dos pais, ele permanece anos na China, sobrevivendo praticamente sozinho num país de hábitos estranhos.
O que importa, aqui, é essa frase colocada no início dos filmes, que se tornou quase obrigatória: "baseado em um fato real". Em si, seu significado é mínimo: a mais tresloucada ficção sempre tem por base algum fato real. E por ser real um fato não determina que um filme seja um bom filme. E, por fim, todos sabemos o quanto de ficção há nos "fatos reais".
Mas isso é o que o público exige hoje. Ou você lhe dá um blockbuster daqueles, ou "fato real", algo que cheire a verdade.
Que diferença faz se o pai Goriot de Balzac é real ou fictício? Não é a ficção que, no caso, esteia a realidade?
O problema é outro: é que o espectador já não reconhece nos filmes uma verdade intrínseca. A imagem já não é sintoma de verdade. Ela precisa, portanto, para se afirmar, dessa muleta que é "a realidade", pois, sabendo que o personagem sofreu de verdade, podemos nos comover com aquilo. Se for mera ficção, para que perder tempo?
Isso é um sinal, ao mesmo tempo, de certa deficiência dos filmes. A ela será preciso voltar.
(texto publicado na Folha de S. Paulo do dia 19 de fevereiro de 2005)
11 Comments:
Bem... és tu um grande critico de cinema! =/
É um bocado ainda este texto não?
Não tem objectivo e esta bastante confuso..
Não concordo em certa parte nele mas pronto é a tua opinião! Segundo que leio e que não estou de acordo.
Ao menos ficas aqui com um comentario dum vizinho de portugal! abraço
By Anonymous, at 1:36 PM
Faltou ali o " antigo" xD
Sorry..
By Anonymous, at 1:36 PM
alucard, vai cuidar da padaria e não enche o saco!
By Anonymous, at 1:03 PM
Anonymous, não é nada a haver ctg!! por isso vai pastar para outro lado... Não é proibido comentar os posts por isso desaparece!
Why so serious...
By Anonymous, at 3:21 PM
Inácio, interessante, porque o Rohmer, em Agente Triplo, também começa com "baseado em fatos reais", só que durante o filme inteiro ele brinca, ironiza, subverte essa frase, já que o personagem principal não pára de mentir (ou de dizer a verdade) sobre ele mesmo, de modo que é impossível saber se o fato é mesmo real ou não.
Abraços!
By Anonymous, at 11:26 PM
e eu que pensava que o pessoal da terrinha tivesse um pouquinho mais de cultura...
para sua informação esse blog é um repositório de resenhas do inácio araújo, gentilmente mantido pelo Diego Costa Assunção, que nos presta esse grande serviço. o inácio não é um qualquer, ele é um crítico de cinema sério, respeitadíssimo aqui no brasil.
sei que em portugal vcs tem grande acesso a banda desenhada de qualidade, que se pudessem quase se afogariam nesse tipo de coisa, mas isso é um blog de cinema, tratando do tema em suas especifidades. se quiser achar que o frank miller e o moebius são gênios, que o inácio araújo é um bosta, problema seu, mas vá fazer isso com seus amiguinhos nerds portugueses e mulheres de bigode, comendo aqueles doces gordurentos que vcs tanto gostam e não me façam perder tempo com esses posts quilométricos e sem sentido.
By sensei allegro, at 8:34 AM
Ô, olha a xenofobia aí!Ok, o comentário da padaria foi meu...
As mulheres portuguesas são gatas, sério mesmo.
Mas é melhor parar, se não eles vão começar a dizer que a gente mora em árvores ou coisa do tipo.
By Anonymous, at 9:52 AM
Oi, Inácio:
Me dê um alo...
É Geronimo, de Fpolis.
By Anonymous, at 7:40 AM
Império do Sol" é outro daqueles filmes que tem fãs ardorosos, mesmo com todos sabendo que ele só fez esse (e outros) filmes para tentar arrebatar o Oscar de melhor filme, o que ele só conseguiu com Schindler (um ótimo filme, mas longe de ser sua obra-prima em minha opinião - ah, aquele final...).
Mas, voltando, "O Império..." é um filme repleto de defeitos, a meu ver. Em especial o roteiro, que trata o menino que se perde dos pais em plena Guerra, num país estrangeiro, como se estivesse em um parque de diversões. Fora a sacarina em excesso. Não dá para botar fé, mesmo tendo sido aparentemente baseado na biografia do Ballard.
By Anonymous, at 10:55 AM
acho que o blog realmente não é melhor lugar para entrar em contato ou achincalhar o inácio, acho que ele nem lê as bobagens que a gente posta aqui.
e para o maŕio: o inácio tá elogiando o filme justamente por esse lado fantasioso do roteiro. quem acompanha sabe a preocupação dele com essa obssessão pelo real que toma conta do cinema dito sério atulamente.
ps: espero que os malas tenham esquecido o blog.
By sensei allegro, at 1:04 PM
Tem filme que não tem jeito: só funciona se o espectador for previamente avisado de que aquilo de "de fato" ocorreu. O citado Schindler, por exemplo. Ao ver o filme, é dificl não pensar "isso aconteceu de verdade", e esse sentimento faz parte, digamos, da proposta. Os irmãos Coen brincam com isso também, quando anunciam Fargo como sendo "baseado em fatos reais", o que é mentira. Cinebiografias são geralmente ruins por causa disso. A realidade é geralmente um muleta ruim, pois ela nem sempre produz os melhores roteiros. Mas há quem subverta isso, como no TOuro Indomável. É um grande filme, não importa se La Motta existiu de verdade, se tudo aquilo que vimos aconteceu de fato.
By Anonymous, at 9:43 PM
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