INÁCIO ARAUJO
Fugi um pouco de "A Bela Junie". Achava difícil fazer uma adaptação de "Mme. de Cléves" à altura da que Manoel de Olliveira fez em "A Carta". O filme de Christophe Honoré me surpreendeu em vários aspectos, em outros nem tanto.
Nem tanto: 1) os atores - Tanto Louis Garrel, como a menina (que parece Anna Karina!) e o restante do elenco estão excelentes. 2) Paris - Faz muito tempo que os franceses parecem ter perdido o prazer de filmar Paris. C.H. filma como os caras da Nouvelle Vague, com aquele sentimento de descoberta, de novidade, todo o tempo.
Surpreendeu a adaptação. Transportar a corte para um colégio de região chique foi uma maneira de se distanciar do original, sem se distanciar excessivamente. Na verdade, toda a adaptação parece uma sanfona, ora cola no texto, ora se afasta ostensivamente. Conserva-se o nome de Nemours para o amante, por exemplo, mas Otto não tem nada a ver, nem Junie, até onde me lembro, em todo caso.
Nos anos de escola os adolescentes têm, praticamente, a mesma idade das pessoas da corte do séc. 17 (ou 16?) e, sobretudo, a mesma disponibilidade para a paixão. Tudo é tremendamente sensual no filme. Inclusive a introdução do tema da homossexualidade desta vez está muito a propósito.
Sobretudo, me parece que os personagens têm essa grandeza nos gestos que caracteriza os personagens de Mme. de La Fayette. É um filme tremendamente moral. É, ainda, uma "livre adaptação", e a ênfase pode bem ir para "livre". "A Bela Junie” me parece um exercício de liberdade.
3 Comments:
Concordo que A carta, com uma Chiara Mastroianni linda, tornando tolo todos os homens a sua volta (particularmente o patético cantor popular e seus óculos escuros), e aquele humor sutil e irônico de Manoel de Oliveira, ridicularizando de leve a aristocracia francesa, como um Buñuel sofisticado, adestrado, é realmente difícil de superar, mas gosto bastante do cinema de Honoré e A bela Junie não é exceção.
Dentre todos cineastas franceses contemporâneos, é o que mais consegue resgatar o frescor e a alegria do movimento. Arnaud Desplechin, por exemplo, sufoca sua criatividade com uma esquizofrenia e pretensão capaz de cansar o espectador pouco após os primeiros monólogos filosóficos de algum de seus personagens.
By Bruno Cursini, at 9:32 AM
No Desplechim de Um Conto de Natal não vejo esquizofrenia e sim,uma bipolaridade entre uma ironia quase sorridente e melancolia num movimento que achei magnetizante,não cansativo.
By jose, at 6:39 PM
Também achei a menina muito parecida com a Anna Karina!
E gostei bastante do filme, eu que geralmente não aprecio o cinema do Honoré.
By Gabriel Carneiro, at 9:24 AM
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