O HOMEM É UM SER DIVIDIDO EM "SINDICATO"
INÁCIO ARAUJO
Até hoje ninguém sabe se Elia Kazan é crápula ou herói, traidor ou homem de boa-fé. Sabe-se, contudo, que tem coragem: quando, pressionado pela "caça às bruxas", lá por 1950, foi chamado a delatar seus ex-amigos comunistas, não só o fez como publicou uma página no "New York Times" para dizer que isso era uma atitude necessária.
Ora, ninguém ama os dedos-duros, nem o inimigo. De maneira que Kazan amargou a solidão completa, maldito pela esquerda e desprezado pela direita. Deixou de ser o queridinho da Fox. Seu "Sindicato de Ladrões" teve produção independente e de certa forma o reabilitou em Hollywood, tendo recebido oito Oscars (de certa forma porque até hoje sua atitude é condenada por muita gente).
É um filme sobre a dor, em suma. Lá está Marlon Brando, irmão de um poderoso sindicalista do cais de Nova York, forçado a se calar diante das brutalidades que vê os gângsteres praticarem. É pela influência de um padre e uma mulher (é preciso os dois: dá para ver por aí que a situação não era fácil), que Brando decide cooperar com as autoridades no desmantelamento do sindicato.
As decorrências veremos. O importante é que nesse filme dilacerado Kazan fala essencialmente de si mesmo e das pressões que sofreu de vários lados. Para ter uma idéia da loucura que foi essa época, os nomes que ele delatou já eram todos notórios - portanto, a rigor, nem delação houve. E os que o forçaram a delatar sabiam que ele havia deixado o Partido [Comunista] ainda nos anos 30 (por não gostar de interferências em suas peças).
"Sindicato" agita, mais que o tema do traidor e do herói, o do homem dividido - que habita a obra de Kazan desde quase sempre. Essa divisão fez dele um dos raros artistas a não só sobreviver, como crescer após a delação.
(texto publicado na Folha de S. Paulo do dia 09 de agosto de 2003)
INÁCIO ARAUJO
Até hoje ninguém sabe se Elia Kazan é crápula ou herói, traidor ou homem de boa-fé. Sabe-se, contudo, que tem coragem: quando, pressionado pela "caça às bruxas", lá por 1950, foi chamado a delatar seus ex-amigos comunistas, não só o fez como publicou uma página no "New York Times" para dizer que isso era uma atitude necessária.
Ora, ninguém ama os dedos-duros, nem o inimigo. De maneira que Kazan amargou a solidão completa, maldito pela esquerda e desprezado pela direita. Deixou de ser o queridinho da Fox. Seu "Sindicato de Ladrões" teve produção independente e de certa forma o reabilitou em Hollywood, tendo recebido oito Oscars (de certa forma porque até hoje sua atitude é condenada por muita gente).
É um filme sobre a dor, em suma. Lá está Marlon Brando, irmão de um poderoso sindicalista do cais de Nova York, forçado a se calar diante das brutalidades que vê os gângsteres praticarem. É pela influência de um padre e uma mulher (é preciso os dois: dá para ver por aí que a situação não era fácil), que Brando decide cooperar com as autoridades no desmantelamento do sindicato.
As decorrências veremos. O importante é que nesse filme dilacerado Kazan fala essencialmente de si mesmo e das pressões que sofreu de vários lados. Para ter uma idéia da loucura que foi essa época, os nomes que ele delatou já eram todos notórios - portanto, a rigor, nem delação houve. E os que o forçaram a delatar sabiam que ele havia deixado o Partido [Comunista] ainda nos anos 30 (por não gostar de interferências em suas peças).
"Sindicato" agita, mais que o tema do traidor e do herói, o do homem dividido - que habita a obra de Kazan desde quase sempre. Essa divisão fez dele um dos raros artistas a não só sobreviver, como crescer após a delação.
(texto publicado na Folha de S. Paulo do dia 09 de agosto de 2003)
2 Comments:
Tem algum texto do "Depois do vendaval" que o Inácio tenha feito, Diego? Abraços.
By Unknown, at 3:45 PM
Curiosidade: Diego, tem alguma coisa do Inácio sobre o Aronofsky, especificamente o famigerado "Requiem para um sonho"? Grande abraço!
By Andre de P.Eduardo, at 1:30 AM
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