JOHN FORD FAZ SENTIDO DE DEVER PARECER TRAGÉDIA
INÁCIO ARAUJO
John Ford teria sido um soldado exemplar - foi, por sinal, um intrépido cinegrafista do Exército, durante a Segunda Guerra -, pois em seus filmes o sentido do dever sempre está presente.
Ele está mais ainda nos poucos filmes que produziu, como "Rio Grande". Diga-se ainda, os filmes que produziu tendem a ser mais tristes e mais secos que a média de sua obra. Em "Rio Grande", esse sentido de dever parece tragédia de Corneille: ele deve mandar o próprio filho para a guerra contra os índios; precisa tomar decisões cruciais, que o levarão a pôr a própria honra em sério risco; precisa, no meio disso tudo, reconquistar o amor da mulher de quem o dever o afastou.
O crítico Sérgio Augusto costuma dizer que Ford é o Homero do Oeste. Sem prejuízo da comparação, Ford é também, e por excelência, o Corneille do século 20: aquele que "pinta os homens tal como deviam ser", pois seus heróis são, como o coronel Kirby, humanos, mas também sobre-humanos.
(texto publicado na Folha de S. Paulo do dia 13 de junho de 2007)
INÁCIO ARAUJO
John Ford teria sido um soldado exemplar - foi, por sinal, um intrépido cinegrafista do Exército, durante a Segunda Guerra -, pois em seus filmes o sentido do dever sempre está presente.
Ele está mais ainda nos poucos filmes que produziu, como "Rio Grande". Diga-se ainda, os filmes que produziu tendem a ser mais tristes e mais secos que a média de sua obra. Em "Rio Grande", esse sentido de dever parece tragédia de Corneille: ele deve mandar o próprio filho para a guerra contra os índios; precisa tomar decisões cruciais, que o levarão a pôr a própria honra em sério risco; precisa, no meio disso tudo, reconquistar o amor da mulher de quem o dever o afastou.
O crítico Sérgio Augusto costuma dizer que Ford é o Homero do Oeste. Sem prejuízo da comparação, Ford é também, e por excelência, o Corneille do século 20: aquele que "pinta os homens tal como deviam ser", pois seus heróis são, como o coronel Kirby, humanos, mas também sobre-humanos.
(texto publicado na Folha de S. Paulo do dia 13 de junho de 2007)
5 Comments:
Inácio,formiguinhas como eu continuam discutindo lá embaixo sobre o Batman.Uma delas tentou toda atrapalhada dizer o que esse post sobre John Ford deixou bem claro:Cinema é mitologia em movimento.Obrigado.
By jose, at 8:50 AM
"Ford é também, e por excelência, o Corneille do século 20: aquele que "pinta os homens tal como deviam ser", pois seus heróis são, como o coronel Kirby, humanos, mas também sobre-humanos."
Fabuloso Inácio. Obrigado por estas constantes lições.
By José Oliveira, at 10:04 AM
De fato, são sobre-humanos, os personagens fordianos. Sobretudo porque é o dever que os transmuta nesta questão de colocar o humano para trás, e tornar-se, eles mesmos, a efetivação do próprio dever.
Muito bom!
Vou adicionar teu blog nos favoritos, Inácio. Finalmente te descobri!
Abraço,
Ranieri
By Ranieri Brandão, at 9:13 AM
Ah! E é só lembrar como o dever, em "Fort Apache" é a pura tragédia...
By Ranieri Brandão, at 9:38 AM
"Ford é o Homero do Oeste". Brilhante!
Esse sentido de dever (ou obcessão) estava tambem presente no seu esquecido Wings of Eagles, tambem na figura de Wayne
By Luís A., at 4:51 AM
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