FAÇA A COISA CERTA
INÁCIO ARAUJO
Li em algum lugar - e se a memória não me trai - que o primeiro filme que o Obama viu (ou que foi ver com a então namorada, hoje mulher) foi "Faça a Coisa Certa".
Ontem varei a madrugada acompanhando a apuração, mudando de canal para canal, obsessivamente, e acho que o momento em que acabou a votação na Costa Oeste e a CNN deu as previsões de Califórnia, Oregon etc., e tudo foi ficando azul no mapa, tenho a impressão de que foi um dos momentos mais fantásticos que jamais sonhei viver.
A minha geração viu Bob Kennedy entrando de lança-chama (ou quase isso) na Universidade do Alabama para garantir o direito de um negro a estudar ali. Ainda ouvimos notícias de linchamentos no sul. Seguimos a carreira de um governador do Alabama (me esqueço o nome, há um telefilme sobre ele) que virou racista só para poder se eleger (depois levou um tiro, ficou paralítico e abriu uma fundação pela igualdade racial...) Acompanhou de Martin Luther King a Malcolm X, seguiu os Panteras Negras, achou que Jesse Jackson era maluco, quando ousou pensar em se tornar presidente.
Enfim, o que queria dizer é o seguinte. Para mim, o melhor momento de ontem foi na TV5, quando ministro francês da Defesa entrou e disse o seguinte: os americanos estão nos dando uma baita lição. Porque na França não existe NENHUM deputado com origem nas antigas colônias que tenha sido eleito no território metropolitano (isto é, que não venha da Guiana, de ilhas distantes, de algum reduto colonial ainda existente).
Bem, quanto a nós, sem comentários, não é? A simples existência do Obama é uma lição. Nós que nos orgulhamos tanto de nosso não racismo, não temos governadores, nem senadores, nem professores universitários (salvo exceções), nem nada que sejam negros. Nós que tanto falamos do racismo americano acho que levamos uma dessas bofetadas com luvas de pelica, não?
Desculpe, não tem quase nada isso a ver com cinema. Mas o "Faça a Coisa Certa" não entra na história dele, me parece, por acaso.
INÁCIO ARAUJO
Li em algum lugar - e se a memória não me trai - que o primeiro filme que o Obama viu (ou que foi ver com a então namorada, hoje mulher) foi "Faça a Coisa Certa".
Ontem varei a madrugada acompanhando a apuração, mudando de canal para canal, obsessivamente, e acho que o momento em que acabou a votação na Costa Oeste e a CNN deu as previsões de Califórnia, Oregon etc., e tudo foi ficando azul no mapa, tenho a impressão de que foi um dos momentos mais fantásticos que jamais sonhei viver.
A minha geração viu Bob Kennedy entrando de lança-chama (ou quase isso) na Universidade do Alabama para garantir o direito de um negro a estudar ali. Ainda ouvimos notícias de linchamentos no sul. Seguimos a carreira de um governador do Alabama (me esqueço o nome, há um telefilme sobre ele) que virou racista só para poder se eleger (depois levou um tiro, ficou paralítico e abriu uma fundação pela igualdade racial...) Acompanhou de Martin Luther King a Malcolm X, seguiu os Panteras Negras, achou que Jesse Jackson era maluco, quando ousou pensar em se tornar presidente.
Enfim, o que queria dizer é o seguinte. Para mim, o melhor momento de ontem foi na TV5, quando ministro francês da Defesa entrou e disse o seguinte: os americanos estão nos dando uma baita lição. Porque na França não existe NENHUM deputado com origem nas antigas colônias que tenha sido eleito no território metropolitano (isto é, que não venha da Guiana, de ilhas distantes, de algum reduto colonial ainda existente).
Bem, quanto a nós, sem comentários, não é? A simples existência do Obama é uma lição. Nós que nos orgulhamos tanto de nosso não racismo, não temos governadores, nem senadores, nem professores universitários (salvo exceções), nem nada que sejam negros. Nós que tanto falamos do racismo americano acho que levamos uma dessas bofetadas com luvas de pelica, não?
Desculpe, não tem quase nada isso a ver com cinema. Mas o "Faça a Coisa Certa" não entra na história dele, me parece, por acaso.
8 Comments:
Obama "fez a coisa certa", mas na dualidade do filme, pelo lado "Luther King", e não pelo radicalismo "Malcolm X", bairrista é claro, mas num contexto bem diferente, fim dos anos 80.
Um negro na White House. Até eu me lembro dos quebra pau em Los Angeles uns 15 anos atrás. Impresionante!
By Andre de P.Eduardo, at 8:29 AM
Inacio,Nelson Rodrigues disse que o que define um homem é a soma de suas obsessões.Uma das minhas é a Trilogia dos X-men no cinema.Sei que você não dá muita bola para essa idéia de mutantes,mas eu não resisto.Obama chegar a Presidencia dos Estados Unidos da América é como um mutante conseguir o comando da Casa Branca usando o caminho de Charles Xavier(Luther King) e não, o do Magneto(Malcolm X).Nem Stan Lee imaginaria isso.
By jose, at 3:50 PM
Tudo é cinema, tudo é Brasil...
By Anonymous, at 6:51 AM
Verdade. É triste constatar que não temos negros eleitos para cargos políticos, mas, como você colocou professores universitários em questão, é bom lembrar que temos um Ministro do Supremo negro. Sim, Ministros do Supremo são indicados pelo Presidente da República, mas não deixa de ser alguma coisa. Um cargo dos mais importantes do país.
By Unknown, at 11:56 AM
O que demonstra que os americanos são mesmo deliciosamente imprevisíveis. Passam vergonha diante do planeta ao eleger, por duas vezes consecutivas, a tragédia lamentável que é George Bush filho, e agora dão exemplo de modernidade, como já fizeram na música popular e no cinema.
Dá até para achar que o mundo ainda tem jeito.
Ótimo post. Um abraço.
By Anonymous, at 6:08 AM
Celso Pitta já foi prefeito de São Paulo ué.
By Rodrigo Cazes, at 8:27 AM
Li há pouco, nem lembro onde, acho que na Folha mesmo. A mãe do Obama, uma branca do meio oeste, assistiu Orfeu Negro e foi aí que ela ficou encantada e apaixonada pelos negros. Tá aí uma relação até mais forte entre esse evento histórico e o cinema. E, de quebra, o Brasil.
By Anonymous, at 4:32 PM
Existe bastante hipocrisia no que toca a questão racial no brasil. basta dar uma olhada na moradias fornecidas por universidades públicas para alunos carentes aqui de são paulo para ver que o negro quase não existe no meio acadêmico.
By sensei allegro, at 7:12 AM
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