Canto do Inácio

Tuesday, November 25, 2008

JACQUES TOURNEUR CONSTRÓI CINEMA SEM FIRULAS
INÁCIO ARAUJO


Não há personagem mais interessante no cinema americano do que Jacques Tourneur. Diferente de quase todos os estrangeiros em Hollywood, o francês foi cedo para os EUA, acompanhando o pai, Maurice Tourneur. Voltou à França no final dos anos 20 e chegou a fazer um filme, mas logo retornou aos EUA, onde efetivamente fez carreira.

Certa vez, perguntaram-lhe porque seus filmes eram melhores do que os europeus. Ele, na lata: "Nos meus filmes ninguém abre a porta dos carros".

A explicação é insuficiente, claro, mas pode ser traduzida assim: é preciso ir ao ponto, não perder tempo com o acessório.

Tourneur é reconhecido como um autor, mas isso se deve unicamente pela capacidade de imprimir um olhar próprio aos roteiros que recebia, quase sempre, prontos. E um ponto de honra para ele é que só tinha se recusado uma única vez a fazer um filme, pois não concebia Burt Lancaster no papel de índio. O filme era "Apache", e foi Robert Aldrich quem rodou-o - com excelentes resultados, por sinal.

Em um DVD meio precário foi lançado no Brasil seu "Sangue de Pantera", primeira associação sua com o produtor Val Lewton. Estranho casal! Tourneur dizia que adorava filmar com Lewton, porque Lewton era um sonhador, e ele, um homem pé na terra.

Tourneur fez magníficos filmes noir, como "Fuga do Passado". Fez capa-e-espada, como "O Gavião e a Flecha".


Entre seus faroestes dos anos 50, convém atentar a "Dívida Amarga", onde o jogador Robert Stack, após ganhar no carteado um hotel em Denver, viverá o começo da Guerra de Secessão e se verá entre duas bandeiras e entre duas mulheres. Tourneur irá sempre ao ponto. O filme, promete a emissora, vem dublado e, como é colorido, não há risco de ser colorizado.

(texto publicado na Folha de S. Paulo do dia 31 de julho de 2005)

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