NOSSO CINEMA “INDUSTRIAL”
INÁCIO ARAUJO
Por que insistimos tanto em nossa "indústria de cinema"?
Alguma vez a nossa "indústria" deu certo?
Deu certo a Cinédia, deu certo a Vera Cruz?
Por que daria agora, quando a concorrência com Hollywood é a mais pesada, mais brutal que jamais se viu?
Então, para que manter a ilusão de que precisamos fazer "filmes comerciais", ao alcance de todos?
"Todos" simplesmente não vão ver os filmes. Não importam os motivos.
Ao mesmo tempo, se ficarmos no interesse apenas estético dos filmes eu diria que ele é pequeno. É um cinema velho, de 1930 ou 40, cuja maior aspiração parece ser dizer ao público: "olha, nós também sabemos fazer".
Então, enterramos 4, 5, 6 milhões em filmes de muito pouco sentido, estagnantes. Teria algum sentido se as pessoas corressem à frente da bilheteria e dissessem "é isso que a gente quer ver".
Mas elas simplesmente não correm. Experimente ficar um dia perto da bilheteria de um multiplex em dia de domingo para ver como as pessoas se comportam.
Então o que fazer? Reforçar a indústria? Pode fazer. Eu digo apenas: não vai dar certo, vamos fazer um cinema encarquilhado.
A única chance é que exista uma verdadeira política de produção (em lugar da renúncia fiscal, que é um eufemismo para renúncia do Estado a sua obrigação de produzir políticas de produção, distribuição e exibição de filmes) um dia.
E que o filme seja visto pelo seu interesse artístico, cultural ou até político (no sentido de política cultural). E que se pare com essa bobagem de ficar correndo atrás de um público que foge dos filmes.
O público vai ver o que o faz o Daniel Filho. Então que a Globo produza os filmes dele e sejam todos muito felizes.
A gente precisa de um artesanato da originalidade, da necessidade absoluta de mostrar alguma coisa.
O filme do Cláudio Assis é isso, o do Tonacci também. Há outros, o Carlão, o Beto Brant, o Mojica, o Ivan Cardoso, o Bressane. Caramba, não nos falta talento. Falta uma política para colocá-lo em relevo, para desenvolvê-lo.
Não sei se isso vai dar certo. Agora, essa coisa de indústria, pode esquecer: não vai para parte alguma.
INÁCIO ARAUJO
Por que insistimos tanto em nossa "indústria de cinema"?
Alguma vez a nossa "indústria" deu certo?
Deu certo a Cinédia, deu certo a Vera Cruz?
Por que daria agora, quando a concorrência com Hollywood é a mais pesada, mais brutal que jamais se viu?
Então, para que manter a ilusão de que precisamos fazer "filmes comerciais", ao alcance de todos?
"Todos" simplesmente não vão ver os filmes. Não importam os motivos.
Ao mesmo tempo, se ficarmos no interesse apenas estético dos filmes eu diria que ele é pequeno. É um cinema velho, de 1930 ou 40, cuja maior aspiração parece ser dizer ao público: "olha, nós também sabemos fazer".
Então, enterramos 4, 5, 6 milhões em filmes de muito pouco sentido, estagnantes. Teria algum sentido se as pessoas corressem à frente da bilheteria e dissessem "é isso que a gente quer ver".
Mas elas simplesmente não correm. Experimente ficar um dia perto da bilheteria de um multiplex em dia de domingo para ver como as pessoas se comportam.
Então o que fazer? Reforçar a indústria? Pode fazer. Eu digo apenas: não vai dar certo, vamos fazer um cinema encarquilhado.
A única chance é que exista uma verdadeira política de produção (em lugar da renúncia fiscal, que é um eufemismo para renúncia do Estado a sua obrigação de produzir políticas de produção, distribuição e exibição de filmes) um dia.
E que o filme seja visto pelo seu interesse artístico, cultural ou até político (no sentido de política cultural). E que se pare com essa bobagem de ficar correndo atrás de um público que foge dos filmes.
O público vai ver o que o faz o Daniel Filho. Então que a Globo produza os filmes dele e sejam todos muito felizes.
A gente precisa de um artesanato da originalidade, da necessidade absoluta de mostrar alguma coisa.
O filme do Cláudio Assis é isso, o do Tonacci também. Há outros, o Carlão, o Beto Brant, o Mojica, o Ivan Cardoso, o Bressane. Caramba, não nos falta talento. Falta uma política para colocá-lo em relevo, para desenvolvê-lo.
Não sei se isso vai dar certo. Agora, essa coisa de indústria, pode esquecer: não vai para parte alguma.
8 Comments:
ha tempos nao via um comentario tao lucido acerca do cinema nativo, amem inacio!
By Anonymous, at 8:54 AM
Talvez o que falte é um conceito claro de "nossa indústria". "Nossa indústria" não deve ser uma cópia da Hollywoodiana porque não temos estrutura pra isso. Talvez uma indústria do nosso jeito. Isso não siginifica também produzir 30 Cláudio Assis por ano (ele é um porre, chato, prolixo e extremamente didático). Talvez produzir 20 filmes médios "O Invasor", "O Homem que Copiava", "O Ano que meus pais saíram de férias", "Central do Brasil" e um ou dois blockbusters que se sustentem, como Carandiru ou Os Dois Filhos de Francisco. O que não pode é lei de incentivo maquiaar nossos filmes: como não tem risco, eles custam mais do que custariam se não houvesse a renuncia fiscal.
Quanto ao público, acho que há um desencontro: realizadores não entendem o público e este é muito frágil, suscetível a qualquer balanço. Acho que um bom exemplo é o Antônia. Acho que na época um monte de gente , inclusive o Leonardo Cruz da Folha, soltou uma série de análises que acho meio precipitada, como por exemplo que o público não quer ver pobreza. Então como alguém explica Carandiru e Cidade de Deus serem fenomenos de builheteria da retomada. O negócio é que o público mudou nos últimos 15 anos e a grande maioria dos filmes não são feitos DE FATO para o público, mas sim com uma idéia que os realizadores t~em do que o público quer. Talvez falte ao cinema brasileiro conhecer mais e, principalmente, melhor seu público e o mercado tênue do Brasil.
By Raul Arthuso, at 9:20 PM
acho isso tudo muito interessante (às vezes), mas confesso a ansiedade por ver mestre Inácio voltar aos filmes...
By Eduardo Valente, at 9:42 AM
Caro Inácio, não tem nada a ver com teu post, mas teu texto sobre o Zurlini na Folha hoje tá ótimo! Quem sabe assim ele ,finalmente seja reconhecido como uma dos grandes cineastas italianos de todos os tempos. Um abraço!
By Unknown, at 5:44 PM
Discordo plenamente, Valente.
Adoro os textos de cinema de mestre Inácio (mesmo quando não concordo), mas uma análise lúcida dessas, sobre qualquer tema, é sempre bem vinda.
Acabei de dar uma oficina de crítica de cinema no Ceará e aquele texto do Inácio sobre a votação da crítica em Brasília foi ponto de partida para a melhor discussão do curso.
abs
Lyra
By Unknown, at 6:48 AM
Se mais uma nulidade crítica vir falar em 'mestre inácio' por aqui, eu juro que pego uma metralhadora e mato uns 10 a esmo na rua.
By Anonymous, at 6:54 PM
Pois é, e se mais um crítico frustrado e invejoso (não necessariamente nessa ordem) aparecer por aqui, vou acender mais uma vela no meu altar de São Inácio.
Se bem que se eu for acender uma vela para cada invejoso desses, meu altar ia ficar parecendo bolo de aniverário da Derci Gonçalves!!
By Unknown, at 10:05 AM
Eu não sou crítico, trabalho como provador de vinhos, e nas horas vagas de cerveja. Mas depois de um dia inteiro trabalhando eu até acho bacana o que você escreve.
By Anonymous, at 7:23 PM
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