Canto do Inácio

Friday, January 30, 2009

"ZODÍACO", DE DAVID FINCHER, SUPERA "BENJAMIN"
INÁCIO ARAUJO


O Oscar se encantou com a história de Benjamin Button e o indicou à penca de 13 prêmios. É um filme bem levado, respeitável, com um ótimo Brad Pitt e maquiagem ainda melhor etc. etc. Mas eu sou mais "Zodíaco".

Há, em "Benjamin Button", algo do que alguém denominou "filme americano inteligente". No caso, disposto a dar conta de um século, e de trás para diante. Não raro faz lembrar "Forrest Gump" (não por nada, tem o mesmo roteirista).

"Zodíaco" tem bem menos para nos impressionar. Para começar, existe um "serial killer". Depois, um detetive obsessivo em luta para desvendar os crimes.

Quanto mais o filme evolui, somos levados mais próximos de uma frustração (em termos do que um espectador busca do espetáculo), e a revelação do mistério parece cada vez mais se substituir pela reafirmação do mistério. Não é fácil fazer um filme assim e de sucesso, como fez David Fincher.

(texto publicado na Folha de S. Paulo do dia 30 de janeiro de 2009)

Friday, January 23, 2009

A BELA JUNIE
INÁCIO ARAUJO


Fugi um pouco de "A Bela Junie". Achava difícil fazer uma adaptação de "Mme. de Cléves" à altura da que Manoel de Olliveira fez em "A Carta". O filme de Christophe Honoré me surpreendeu em vários aspectos, em outros nem tanto.

Nem tanto: 1) os atores - Tanto Louis Garrel, como a menina (que parece Anna Karina!) e o restante do elenco estão excelentes. 2) Paris - Faz muito tempo que os franceses parecem ter perdido o prazer de filmar Paris. C.H. filma como os caras da Nouvelle Vague, com aquele sentimento de descoberta, de novidade, todo o tempo.

Surpreendeu a adaptação. Transportar a corte para um colégio de região chique foi uma maneira de se distanciar do original, sem se distanciar excessivamente. Na verdade, toda a adaptação parece uma sanfona, ora cola no texto, ora se afasta ostensivamente. Conserva-se o nome de Nemours para o amante, por exemplo, mas Otto não tem nada a ver, nem Junie, até onde me lembro, em todo caso.

Nos anos de escola os adolescentes têm, praticamente, a mesma idade das pessoas da corte do séc. 17 (ou 16?) e, sobretudo, a mesma disponibilidade para a paixão. Tudo é tremendamente sensual no filme. Inclusive a introdução do tema da homossexualidade desta vez está muito a propósito.

Sobretudo, me parece que os personagens têm essa grandeza nos gestos que caracteriza os personagens de Mme. de La Fayette. É um filme tremendamente moral. É, ainda, uma "livre adaptação", e a ênfase pode bem ir para "livre". "A Bela Junie” me parece um exercício de liberdade.

Tuesday, January 20, 2009

Curso

“CINEMA – HISTÓRIA E LINGUAGEM - 2009”

COM O CRÍTICO INÁCIO ARAUJO

ABRE INSCRIÇÕES



A partir de 15/1, abrem-se as inscrições para o curso “CINEMA - HISTÓRIA E LINGUAGEM”, com Inácio Araujo, crítico de cinema da Folha de S. Paulo, que em 2009 chega à sua décima-primeira turma.

Neste ano, o curso terá duração de 40 semanas, com duas turmas:
segundas-feiras, das 19h30 às 23h,
terças-feiras, de 9h30 às 13h.,
com início nos dias 2 e 3 de fevereiro, respectivamente.

“Cinema – História e Linguagem” busca oferecer uma visão organizada da história do cinema, enfatizando a formação da linguagem, a evolução dos gêneros, os diálogos entre cineastas do presente e do passado, as intercorrências com as demais artes e entre o cinema e a história.

No primeiro semestre, o curso aborda o cinema desde o seu surgimento, no fim do século 19, até a era clássica, passando pela formação da linguagem cinematográfica, tal como a conhecemos hoje, e pelas vanguardas dos anos 1920.

O segundo semestre é dedicado às transformações do cinema moderno, desde Orson Welles e o neo-realismo, passando pelas revoluções dos anos 60 (Nouvelle Vague, Cinema Novo), chegando às propostas dos cineastas contemporâneos mais originais, como David Cronenberg e David Lynch, entre outros.

O curso trará ainda profissionais das áreas de direção e montagem, para dialogar a respeito de suas experiências.

As inscrições podem ser feitas no local:
Rua Aureliano Coutinho, 278, Conj. 32, Higienópolis, ou pelo telefone 3825.8141. Informações complementares podem ser obtidas no site

www.cursoinacioaraujo.blogspot.com

ou pelo e-mail

cinegrafia@uol.com.br


O preço do curso é de R$ 220,00 mensais e são oferecidas 70 vagas (35 por período).


Além de crítico de cinema do jornal Folha de S. Paulo, Inácio Araujo é autor dos livros "Hitchcock – O Mestre do Medo" (ed. Brasiliense) e "Cinema – O Mundo em Movimento" (ed. Scipione). Escreveu o romance “Casa de Meninas” (prêmio APCA como Revelação de Autor, 1987 – 2a. ed. pela Imprensa Oficial). Participou, como roteirista e montador, de vários filmes de longa e curta metragem.

Friday, January 16, 2009

PRODUÇÃO "B" É A ARTE DO POSSÍVEL
INÁCIO ARAUJO


O filme "B" é, tradicionalmente, a arte do possível. Com pequeno orçamento, pouquíssimos dias de filmagem e por vezes roteiros precários, esta é arte de tirar leite de pedra. Poucos foram tão eficientes nela quanto Joseph H. Lewis, autor de "O Império do Crime".

Ali conta um pouco a história do policial obcecado por prender um gângster de ficha limpa (de passagem, quer ficar com a garota do criminoso). Mas é essa garota o mais marcante: uma ex-pianista, que larga tudo para ficar com o tal homem.

À primeira vista, torce-se o nariz para tipo tão inverossímil. Aos poucos, nota-se que Lewis toca em uma tecla delicada para os anos 50: o desejo está em tudo, inverossímil e avassalador.

(texto publicado na Folha de S. Paulo do dia 20 de agosto de 2001)

Friday, January 09, 2009

NO MEIO DA TEMPESTADE
INÁCIO ARAUJO


Monday, January 05, 2009

DE PALMA FAZ CRIAÇÃO DE FATO, NÃO ENFEITE
INÁCIO ARAUJO


São poucos os criadores que sobrevivem atualmente nesse moedor de carne que é a indústria do cinema americano sem abrir concessões. Há George Romero, John Carpenter, Clint Eastwood. E mais uns poucos. Nenhum talvez seja tão radical quanto Brian de Palma.

Tomemos "Dália Negra". É um filme de moleque. De Palma é capaz de criar um "travelling" alucinante (quando, por exemplo, atravessa toda uma rua em busca da imagem da mulher morta) para contar uma história praticamente incompreensível como esta.

Que importa? Se a vida e a morte (ao menos a desses personagens) são incompreensíveis, por que deveria o filme ser diferente? Afinal, sempre haverá os Christopher Nolan para fazer o cinema mastigadinho com cara de coisa profunda.

Enquanto existirem os De Palma, os Cronenberg -esses malucos que não passam nem na porta do Oscar, o cinema estará garantido. Será criação de fato, não enfeite.

(texto publicado na Folha de S. Paulo do dia 10 de setembro de 2008)